domingo, 22 de agosto de 2010

"A vida não é um sonho..."


A título de contribuição para o início de nosso estudo de Tiquê e Automaton, no Seminário 11 de Lacan, Lucia Frota nos encaminha:

Lacan, neste texto apresenta uma introdução, tres segmentos e um final.

Na introdução estabelece o que orienta a psicanálise, em contraponto com o idealismo.

O idealismo está relacionado com as idéias, importante para os cientistas, para os quais, o que interessa é o desenvolvimento das idéias e das representações, para atingir uma finalidade.
Lacan diz:
A psicanálise é orientada para aquilo que, no coração da experiência, é o núcleo do real, não é idealismo.
Este real ao qual ele se refere é um encontro marcado, a que somos chamados, com algo que nos escapa e que, na experiência psicanalítica se apresenta no que nele é inassimilável, na forma de trauma, determinando sua sequência, impondo uma origem, na aparência, acidental. Lacan traduz o real, tomando emprestado de Aristóteles os termos tiquê e automaton .
Vamos ver o que diz Aristóteles :
A casualidade (Automatón) e a sorte (Tychê) segundo Aristóteles:
«As causas do que sucede como resultado da sorte são, pois, necessariamente indeterminadas. Daí que se pense que a sorte é algo indeterminado ou imprescrutável para o homem, mas também se pode pensar que nada sucede devido à sorte. E tudo isto que se diz está justificado, já que há boas razões para isso. Porque em certo sentido há factos que provêm da sorte, pois há- os que sucedem acidentalmente, e a sorte é uma causa acidental. Mas em sentido estrito a sorte não é causa de nada.» (...)
«A casualidade (Automatón) diferencia-se da sorte (Týchê) por ser uma noção mais ampla. Porque tudo quanto se deve à sorte deve-se também à casualidade, mas nem tudo o que se deve à casualidade se deve à sorte. A sorte e o que resulta dela só pertencem aos que podem ter boa sorte e em geral ter uma atividade na vida. Por isso, a sorte limita-se necessariamente à atividade humana. Um sinal disso está na crença de que a boa sorte é o mesmo que a felicidade, ou quase o mesmo, pois a felicidade é uma certa atividade, a saber, uma atividade bem lograda. Logo o que é incapaz de tal atividade é também incapaz de fazer algo fortuito. Por isso nada que seja feito pelas coisas inanimadas, os animais e as crianças é resultado da sorte, já que não têm capacidade de escolher; para eles não há boa ou má sorte, a menos que se fale por semelhança, como quando dizia Parménides que eram afortunadas as pedras com que se faziam os altares, enquanto que as suas companheiras eram pisadas.»

Aristóteles, Física, Livro II

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