domingo, 22 de agosto de 2010

Um blog de psicanálise!!?? E-feito de invenção?

"Um blog (contração do termo "Web log"), também chamado de blogue em Portugal, é um site cuja estrutura permite a atualização rápida a partir de acréscimos dos chamados artigos, ou "posts". Estes são, em geral, organizados de forma cronológica inversa, tendo como foco a temática proposta do blog, podendo ser escritos por um número variável de pessoas, de acordo com a política do blog.
Muitos blogs fornecem comentários ou notícias sobre um assunto em particular; outros funcionam mais como diários online. Um blog típico combina texto, imagens e links para outros blogs, páginas da web e mídias relacionadas a seu tema. A capacidade de leitores deixarem comentários de forma a interagir com o autor e outros leitores é uma parte importante de muitos blogs. "(Wikipédia)

Um blog de psicanálise pretenderia difundir, divulgar, propagar a psicanálise?
A difusão refere-se ao ato ou efeito de difundir, espalhar ou derramar liquefazendo, disseminar, espalhar, espargir, propagar-se, divulgar-se. Prolixidade e redundância.Divulgar, por sua vez, do latim, divulgare, é tornar público ou notório; publicar; propagar, difundir, vulgarizar. Dar acesso ao vulgo, à plebe, ao comum, ao universal.
Propagar, do latim propagare, é multiplicar, ou reproduzindo ou por geração; dilatar; proliferar; desenvolver-se por contágio.
Poder-se-ia dizer que, a regra fundamental, da associação “livre”, da escuta, e, não, a ausculta do analista, enquanto aquele que sustenta a demanda, introduz a possibilidade de a análise, enquanto deslizamento significante, tornar-se passível de ser propagada, difundida, isto é, multiplicada, reproduzida por geração, dilatada, desenvolvendo-se por contágio, proximidade. Também se poderia vulgarizá-la, criar demandas com ofertas a granel e no atacado, na mídia, e ao modo “quick” de nosso tempo, em todo canto e lugar. Basta acreditar na simples regra analítica como motor da transferência, basta acreditar no amor e na demanda que nunca há de cessar, já que o sujeito nunca fez outra coisa além de demandar! Aliás, só se constituiu e só pôde viver por isso!
Um blog de psicanálise pretenderia isso???
Um blog de psicanálise pretenderia transmitir um trabalho? Como e quando a psicanálise se transmite? O que dela se escreve?
O analista ex-siste ao saber do Outro, mas, mais ainda, ex-siste ao próprio saber, e é isso o que o distingue dos demais.
Arriscam-se os psicanalistas, ao se reunirem,de se colocarem, alegoricamente, como os detentores de um saber com o qual não podem dialogar, para compartir um saber que não conseguem intercambiar?
Estar juntos para trocar um saber que não se pode trocar é paradoxal. Um saber rebelde à dialética da interlocução, só pode ser um saber não inscrito no Outro, como é o caso do analista que só o é em sua prática, em ato, quando não pensa.
E é este saber em ato, que não pensa, que aglutina os analistas, mas não é suficiente para identificá-los. É talvez também o mesmo que os atormenta, o que os faz trabalhar, e, até mesmo, adoecer. A esta doença profissional Lacan chamou “Suficiência”. Pois, o terem que ser suficientes para o ato sem o concurso do Outro, pode tornar os analistas suficientes no sentido do desconhecimento. E o grupo, como o desconhecimento necessita do Outro, se oferece para encobrir e tamponar o insustentável da posição do analista.
O analista só pode ser interrogado a partir de seus atos e dos efeitos produzidos, cuja resposta só tem valor a partir de um pretérito, um “terei sido” ou “teria sido”. Ele é então, testemunho dos atos.É a ele,então, que cabe dar conta do que o fez testemunha, naquele tempo ou ato. Como?
Através de seus textos, suas falas, seus tropeços, e é claro, através de sua prática e dos efeitos que se lhe ocorrem, quando questões se lhe impõem, advindas da clínica, no sentido deste “terei sido?”.
E esta questão só pode se apresentar, no seu sentido radical, só poderá ser formulável, para aquele que experimentou as condições lógicas de uma análise: des-ser para o analista e des-subjetivação para o analisante.

Então, um blog de psicanálise poderia se apresentar como um lugar de publicação, pub-lixação daquilo que, de resto, resta aos analistas, um a um, fazer com o que tenham a-fazer de sua falta, ao seu estilo?

Escrever, ratear, tear talvez...



Angela Porto

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