domingo, 22 de agosto de 2010

Gozar menos, saber mais

O primeiro encontro do Tear 4 chamou-me atenção no testemunho das participantes a relação de cada uma com o saber. Os entraves e as aberturas que vão em cada caso ora fechando, ora abrindo caminho para a trilha de um percurso, para a amarração de uma trança. O embalo da nossa conversa me levou ao Seminário 20 de Lacan para ali pescar algo que ele diz a respeito do gozo.
Neste seminário, Lacan vai iniciar a abordagem do gozo relacionando-o a noção do direito de usufruto. Termo este que, nessa ciência,quer dizer que se pode gozar de um bem, porém, não muito. O usufruto vem regular a tentação de se gozar demais, estabelecendo limites a isso. No direito está previsto também que o sujeito “pode gozar” e não um “tem que gozar”. Não se trata de algo da ordem do dever e sim do direito. Ao contrario, para a psicanálise,o gozo é aquilo que esta submetido a um imperativo superegóico: Goza! Escapando a regulagem utilitária que lhe pretende o direito, goza pra lá do que é útil! Goza em excesso! Mais, ainda! Comanda o superego!
Mas, não é o gozo que faz barreira ao saber? Como se assujeitar ao comando superegóico do gozo em demasia e ir adiante na construção de um saber? Impossível. E é isso que, me parece, vêm mostrar os participantes, no seu testemunho do desejo de saber. Deixar o desejo barrar o gozo, pra sair sabendo um pouquinho mais.
Germana Pimenta Bonfioli

Um comentário:

  1. 1 comentários: Lucia Montes disse...
    Nos embalados de Lao-Tzu, no "Tao Te Ching":
    " Trinta raios unem um eixo. A utilidade da roda é o vazio.
    Queima-se o barro para fazer o pote.
    A utilidade do pote vem do vazio.
    Rasgam-se janelas e portas para criar o quarto.
    A utilidade do quarto vem do vazio.
    Portanto,
    Ter leva ao lucro,
    Não ter leva ao uso."

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