sexta-feira, 29 de julho de 2011

VOLTA A MAIS... ESTÁ VOLTANDO AGOSTO.


E aqui, da sala de espera do dia um deste agosto,
quando retornaremos aos estudos, leituras,
cafezinhos com biscoitos, água boa e novas inquietações...
Peço licença pra fazer um trançado aleatório do vazio que
a escrita de Lao Tzu testemunha, e me inspira,
sobre os imprescindíveis recursos do movimento,
das diferenças e da mutação dos gestos de cada dia.
  
“...alguns avançam, alguns são levados,
alguns choram, alguns tocam flauta,
alguns se fortalecem, alguns se tornam supérfluos,
alguns oprimem, alguns são destruídos.

Repudie extremos,
Repudie excessos,
Repudie extravagâncias.”

“...volte à simplicidade.
...
Volte à infância.
Conheça o branco, confirme o preto,
Torne-se o desenho do mundo.

More num bom lugar.
Trate bem os outros.
Cumpra sua palavra.
Trabalhe na hora certa.” 


Lúcia Montes

quarta-feira, 27 de julho de 2011

“Com o perdão da palavra...”, MAL ESTAR. ANGÚSTIA. SOLIDÃO.


Valendo-me da expressão ‘com o perdão da palavra’, tão comum de se ouvir dizer por aí, gostaria de trazer para nosso contexto estas 3 palavras, sem o peso de baixo astral que às vezes elas significam em certas situações.
Palavras que se precipitaram na grata surpresa com os escritos nos ‘comentários’ da postagem anterior, de 23/07(http://tear4-psicanalise.blogspot.com/2011/07/amy-ou-deixe.html).
Descobri ali, um questionamento que parecia certamente nos reconduzir às coisas e afazeres da análise.
Não sei se as pessoas que postaram aqueles escritos exercem, diretamente, um trabalho com a psicanálise. O que sei agora é que me instigaram a prosseguir com seus fios no tear, e tentar trançar ‘mal estar, angústia e solidão’ como  termos que, se bem articulados na análise, poderão dar suporte a uma travessia de acesso às vias do desejo.
Destaco parte de uma frase dos ‘comentários’ citados, para reendereçá-la à ética do lugar do analista e os possíveis desvios de sua função.

“... é muito fácil entrar nos cativeiros dos que nos idealizam, dos que pensam que nos amam, dos que pensam por nós...”

Uma primeira abordagem que me ocorre diz respeito à situação da ‘formação’ do analista hoje, onde é frequente se ouvirem frases etiquetadas da existência de um a priori e óbvio ‘mal estar’ no exercício da psicanálise. O mesmo para todos? Uma espécie de queixa quase sempre seguida de um: é muito difícil ler Lacan!.. Dado suficiente para se deixar levar por uma aceitação submissa, sem críticas, às propostas hierárquicas e idealizadas dos saberes organizados, nos formatos da mestria e das conveniências Institucionais. Saberes transmitidos como decalques de uma experiência, proposta por Lacan, que um grupo de analistas franceses fez funcionar entre os anos de 1964 e 1980. Data em que Lacan, por um Ato de Dissolução, nomeou seu ponto de basta a este modo de funcionamento, dissolvendo o risco iminente da identificação, em guetos, pela crença devotada, por todos, a um mesmo Signo do amor. Princípio fundamental desencadeante das exclusões e intolerâncias. “...é fácil entrar no cativeiro... dos que pensam por nós...”

Outro ponto para esta reflexão é a frequência com que se ouve o uníssono jargão sobre o peso que é a solidão da clínica psicanalítica. O jovem analista então acaba por se deixar sucumbir à oferta das Super Visões dos mais antigos, que garantidos estão, pelo currículo extenso de cargos e tarefas acumulados na ordenação de suas Instituições ao longo dos anos. “...é fácil entrar no cativeiro... das idealizações...”
Refaço aqui o registro de que, há mais de trinta anos, Lacan rompeu os laços deste “modelo” de funcionamento, propondo como trabalho para a psicanálise a experiência da estrutura nodal do pequeno grupo. Pequeno grupo este,  onde as pessoas se juntariam num trabalho que tem, por princípio, uma hora marcada para se desfazer, restando dele apenas o registro escrito de cada um. 

A partir dessas anotações, deixo aqui a verificação de quanto trabalho e bons estudos temos ainda que fazer, em relação à angústia que não deve demorar muito quando se trata do lugar analista, para que se faça cumprir a função ética, na análise, de sempre se tratar o Amor de Transferência na direção que leva à regra fundamental da Associação Livre. O caminho contrário será um grave desvio na tarefa de atualização da realidade inconsciente.
Mas este manejo só será transmitido no particular de uma experiência com a palavra que não perdoa, porque, nesta instância, dizê-la já terá sido um Ato.  Bem dizer da solidão que faz passagem à causa do desejo. Que busca um fim, não o mesmo da finalidade, contida no gozo destrutivo, da covardia neurótica, mas sim, o da coragem que exige uma volta a mais na experiência de viver.

Como referência para um bom nível nos desdobramentos desta conversa, fica um pouco de Lacan:
“Além de não me agradar, não tenho necessidade de anatemizar os que, com a injúria na boca, gritam que me amam, pela simples razão de que a fraude como tal é fonte de angústia. (...)  
A experiência analítica dá um lugar eminente à função do engano, ao sustentar-se no sujeito suposto saber. Isto é o que explica o fato de não haver retorno, caso o engano vire fraude. (...)
“Não sou daqueles que recuam diante do motivo de sua certeza. Isso é o que me permitiu romper com o que se havia congelado da prática de Freud numa tradição que claramente obstruía toda transmissão. Aí inventei o que tornou a abrir-lhes um acesso a Freud, o que não quero ver fechar-se.” [abril/1980]


Lúcia Montes


sábado, 23 de julho de 2011

AMY ou DEIXE-A



Consumimos, consumimos, consumimos....
até que, já morta,
ainda a consumiremos...  como um objeto qualquer??
abjeto, bonitos seres, de preferencia: frágeis,
  reflexos da devoração. Tão linda música
fez esta jovem...
Mistérios gozosos, moeda moderna,
 uma morte a mais pra especulação...
espetáculo aos pés da Santa Cruz de
mais um espanto a ser consumido....
 já é hora de deixá-la em paz..
Finalmente a morte ....
tão cansado  está o homem
desse leviano consumo da vida....
Ou não?

Lúcia Montes