sexta-feira, 21 de setembro de 2012

O RONCO DA ESCRITA




A escrita não é este objeto espe/ta/cular através do qual se prospectam vidas ou personagens, seres, idéias ou amores fantasmasiados por seu escritautor.
A escrita é antes.
A escrita extrai a ilusão do texto m/eu.  
Ela não pertence.
Salta do rasgo do impronunciável,
 acontece no esteio do indecidível.
É anterior ao desabamento da frase, ou à erosão de qualquer palavra que se queira compreensível.
A escrita corta pontualmente os 2 lados de sua leitura e reata, mais além, as 3 margens de seu leito.
A escrita se apõe entre texto, letra e voz,
 para aí fazer o 4 em movimento, sobre o quase eterno momento do silêncio,
 manco,
 rasurado do que ali pareceria perecer-se.
A escrita amarra o perdido do tempo e, da vida, arrasta os instantes vazios de histórias, para além do pórtico marcado da origem.
Tal qual “O Ronco da Cuíca”, versado por João Bosco,
“roncou de raiva a cuíca, roncou de fome...”,
Assim como a raiva e a fome,
a escrita  é  “coisa dos homens”.

Lúcia Montes.