A
presença de Vinícius de Moraes invadiu o silêncio dos meus jornais, arrebatou
minha tranqüilidade e me faz agora deixar de ser, simplesmente, uma possível expectadora
das controvérsias em torno das vidas e das grafias... ‘Autor’izadas ou ?? Não
tenho claro ainda qual seria o destino de uma vida como obra
‘não-autorizada’... Mas de qualquer forma, de minha parte, foi muito bom ler,
mais que um pedido de desculpas, a posição revisitada do Chico.
E assim me veio a questão do que seria, “A vida
‘artística’ e o contexto privado do artista???......ou ainda, a conseqüência
judicial....
aos
Herdeiros, a Obra??
Será
que assim a vida durará mais que o necessário?, e mais ainda, por vias cartoriais???
É
ele quem escreve e é por seu poema que passo minha homenagem aos seus 100 anos:
VINÍCIUS
DE MORAES – “ O HAVER”
“Resta
esse desejo de sentir-se igual a todos
De
refletir-se em olhares sem curiosidade e sem memória
Resta
essa pobreza intrínseca, essa vaidade
De
não querer ser príncipe senão de seu reino
Resta
esse diálogo cotidiano com a morte, essa curiosidade
Pelo
momento a vir, quando apressada
Ela
virá me entreabrir a porta como uma velha amante
Mas
recuará em véus ao ver-me junto à bem-amada....
Resta...
Essa
terrível coragem diante do grande medo, e esse medo
]Infantil
de ter pequenas coragens.
Resta
acima de tudo, essa capacidade de ternura
Essa
intimidade perfeita com o silêncio.
....
esse antigo respeito pela noite,
esse
falar baixo, essa mão que tateia antes de ter,
esse
medo de ferir tocando,
essa
forte mão de homem, cheia de mansidão para com tudo que existe.
Resta...
Piedade
de si mesmo e de sua força inútil...
Essa
capacidade
De
rir à toa, esse ridículo desejo de ser útil
E
essa coragem para comprometer-se sem necessidade.
Resta...
Essa
distração, essa disponibilidade, essa vagueza
De
quem sabe que tudo já foi como será no vir a ser.
Resta
esse desejo de sentir-se igual a todos...”
Lúcia
Montes
O "haver"...'e diferente do ser e do ter... ja dizia alguem da vida...vamos aos comeres e beberes, enquanto temos nossos haveres.. uso e fruto. Linda aplicaçao da lei Lucia! Resta...o que passa e faz poesia. Que importa quem diz...
ResponderExcluirPois é.: a poesia...
Excluirmais que aplicação da 'lei' nas vias do desejo que, na vida, só fica de resto mesmo...,
resta ainda tanto trabalho e a psicanálise está aí com seus tantos graves e às vezes também burocráticos 'atrasos' por conta de 'pendengas' dessa ordem.
O debate é muito bom! A questão se amplia pelo campo da 'Função' lógica da autoria, mais que do 'patrimônio' hereditário da obra.
Entramos aqui nas litorâneas passagens do particular ao coletivo, do familiar ao cultural....
e devemos pensar isso com toda a delicadeza de trato para que não se passe rapidamente da 'grafia' às 'fagias'...
O banquete totêmico é uma excelente referência da leitura freudiana.
Maravilha a lembrança do poema do Vinicius... ele não é igual a todos e continua presente!
ResponderExcluirBeijos,
Bárbara
muito tênue o limite entre a grafia e a fagia...
ResponderExcluirSuzana Braga
Ah, Vinicius é tudo de bom mesmo =)
ResponderExcluirParabéns pelo blog, atual e de muito bom gosto pela escolha dos temas!
Quando puder, dê uma passadinha no meu blog http://praxisbloggerbr.blogspot.com.br/
abs
Karine Ferreira