domingo, 6 de outubro de 2013

"Quem foi que aprendeu, na psicanálise, a saber tratar bem sua mulher?"

 Perguntinha capciosa de Lacan no seminário XVI...à página 199.

 A psicanálise não é um saber do sexual, diz ele. Não se garante uma sexologia, a ciência do sexo e do sexual,  àquele que faz uma análise!
Quanto à sexualidade, nem seu saber, nem sua prática, contudo são esclarecidos nem modificados por ele, lembra Lacan
 Mas, também, não se pode dizer que nada da experiência analítica poderia articular-se num ensino, diz ele também. Há algo que se aprende, quando se paga o preço, no discurso analítico, do abrir caminho, ainda que intuitivamente, a torto e a direito, pelo trabalho da verdade.
 E o que ela ensina é que, nesse lugar que chamamos inconsciente, enuncia-se uma verdade, cuja propriedade é nada podermos saber dela. O sexual não é pensável sem que exista a implicação na pulsão e, afinal, em psicanálise, é o inconsciente que constrói a pulsão a partir dos rastros do que se escuta e do que se lê...
Rastros...da mulher
 E como é que se "sabe tratar bem a sua mulher"? Aqui se articulam "saber" , "tratar" ...e bem! e "sua mulher".
Seria a mulher "tratável"?
 Da mulher é possível se tratar?
 É curável a condição da falta? Como tratar bem o 'intratável' da castração?
 O tratar "bem", mais além do que se fantasia sobre como se poderia abordar uma mulher, 'a' bordar, fazer borda, contornar, 'rodear', fazer a corte ao que é corte, o que seria? Um jeito? Uma manha? Um 'trato' que se possa dar ao  que seria 'sua' mulher?
 Vislumbra-se, ao referir-se Lacan a um saber sobre a mulher, uma longa caminhada, trilha do próprio caminho analítico, de um Outro ao outro, do significante ao objeto, a trilha da experiência em psicanálise.
A sexualidade, com respeito ao que  nos interessa no campo psicanalítico, constitui certamente um horizonte, mas sua essência está ainda muito mais longe.
Enfim, que, pelo menos, então, "se possam esclarecer numa análise os caminhos que o impedem, ao homem a quem essa mulher se dirige, de fazê-lo direito, gostamos de acreditar que isso se produz no final de uma análise"(Lacan,Seminário XVI, página199)

Ângela Porto

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