As perguntas formuladas por Lucia Frota sobre o filme “La pianiste”, exigem trabalho.Quando Lucia diz que à época do lançamento do filme ele causa impacto, lembro que a 'época de lançamento do filme' é sempre pontual. Momento em que, para nós, espectadores, acontece a provocação deste punctus que é o ponto em que a imagem, furada, fura os olhos de quem a vê.
Tratando da fotografia em seu célebre A Câmara Clara, Barthes vê nela duas vias: a que nos levaria a "submeter seu espetáculo ao código civilizado das ilusões perfeitas" e a que nos afrontaria com "o despertar da intratável realidade" (BARTHES, 1980, p. 175).
O primeiro caminho é aquele que ele nomeia studium, dimensão que permite que se teçam de uma fotografia comentários sábios, sociológicos ou classificatórios.
O segundo lhe parece mais essencial ao fotográfico: trata daquele ponto fugidio, de localização lábil, que nos obriga a fechar os olhos, diante da imagem, pois ele é pontiagudo, capaz de atingir, furar (os olhos): o punctum. Este é de localização estritamente subjetiva, justamente porque corresponde ao ponto em que a foto toca e põe em movimento pulsional o sujeito.
A fotografia carrega já em si, portanto, uma possibilidade de movimento que o cinema virá explorar, ela cava uma distância do olhar em relação à realidade (justamente ao se propor como reprodução direta, indicial, da realidade) que faz de cada imagem uma seqüência a ser explorada, em busca de outra coisa que não está lá (exatamente como faz Freud com sua lembrança encobridora). Mas se a foto implica, em princípio, um desdobramento narrativo (studium), há nela uma corrente oposta, inerente também à imagem, que circunscreve uma certa invisibilidade, ou melhor, uma impossibilidade de ver que é correlativa a uma interrupção da seqüência narrativa, a uma parada no tempo ou a uma repetição incessante que ameaça romper toda possibilidade de narração (punctum). Há algo potencialmente traumático na imagem. (Tânia Rivera,em Cinema e pulsão, sobre o”Irreversível”, o trauma e a imagem)
Pergunta Lucia Frota:
Por causa do estreito laço que separa a sexualidade normal da patológica ?
Pela angústia diante de um gozo insuportável que avassala as pessoas frente a certas
situações ?
A devastação provocada pela figura materna na vida da personagem ?
Por causa...por causa de...causa de...causa.
Causa... de novo, e...trabalho!
Angela Porto
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