sábado, 11 de setembro de 2010

Nessa In[Ex]sistência Toda, de Quem é o concerto ?



Música de uma nota só?

Carta de letra muda?

No afastamento entre Prazer e Realidade,

na realidade da distância freudiana,

o corpo faz leito para o advento da linguagem

pela operação do significante.

A carta, ainda por escrever, fora,

no irremediável só,

recusa o nome, recusa o homem, recusa... o encontro?.

Do inevitável encontro, o fora da imagem mira o rito, move fora da cena musical,

e mais ainda, nos banheiros, na pele do sem corpo,

sem bordas, o insuportável do amor é uma só periferia.

O que é que tanto in-siste no que ex-siste?

Lugar hiante e ânsia incondicional de uma natureza que faz da angústia seu símbolo mais vivo e mais exato?

Mulher ?...

corpo-corte, pote sem coração, lâmina-mão de sangue-maldição que se esvai sobre o teclado branco das vozes, na penumbra-mãe, no amuro de portas escancaradas, da satisfação que visa sufocar qualquer possibilidade de outro pedido, que não seja este,

o de in[ex]sistência...

o fora sem dentro?

Música de uma nota só: “como ‘eu’ sou a conseqüência inevitável de ‘você’ ’”.

Carta de letra muda: “porque não sei se sabes que a morte é a verdade do amor, do mesmo modo que o amor é a verdade da morte” [E.Vila-Matas]

Entrei aqui na provocação de trabalho que persevera nesse belíssimo filme que nos reendereça às apaixonadas e inquietantes interrogações vienenses.

Literárias, Musicais, travessias-(a)travessuras até o Inconsciente, sempre atual, que Freud nos despertou

“... mesmo porque as notas eram surdas quando um deus sonso e ladrão

fez das tripas a primeira lira que animou todos os sons.” [Chico Buarque]

“A psicanálise não é uma cosmologia, se bem que basta que o homem sonhe para ver ressaltar esse intenso bricabraque, esse guarda-móveis do qual ele tem que se desvencilhar, e que constitui seguramente uma alma, uma alma ocasionalmente amável quando alguma coisa queira mesmo amá-la.” [J. Lacan – “encore’]

Emprestando alma ao muro, escrita a carta, nota sonora de almor,

o amor tranca as portas e faz um dentro,

o quarto da mãe,

um giro de um quarto de volta ?

Porque há, em algum lugar daquele que fala, algo que sempre sabe mais do que ele mesmo, é que uma carta sempre chegará ao seu endereço.

E depois disso,

Quem é que nunca sabe mesmo quem estará na platéia?

Lucia Montes

2 comentários:

  1. NOOOOOSSSA!
    O trabalho que dá uma mulher!!!É DE TIRAR O FÔLEGO, o trabalho que vc fez a partir do filme e do que viemos trabalhando no Tear 4.Você não "entrou na provocação" do trabalho do filme...minha amiga, o trabalho da pro-vocação entrou em você..
    "Muita coisa pra pensar e ter tempo para amar"....
    "A carta, ainda por escrever, fora,
    no irremediável só,recusa o nome, recusa o homem, recusa... o encontro?."
    A mulher é o que não recusa o homem,não recusa o nome, não recusa o encontro,não recusa "esse só",é o que escreve a carta, sempre e ainda por escrever.. um saber? Será que às vezes a gente tem uma resposta?

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  2. Queridas Ângela, Lúcia e participantes do Tear4
    Tenho acompanhado a construção criativa da transmissão da psicanálise, via Tear4. Bem à forma do tear que tece fios, enlaça e, permite fazer um tecido, lá vai a psicanálise circulando entre palavras e imagens, numa interlocução com mais campos de saber.
    Na perspectiva de pensar o que o real aponta e instiga, nos buracos, no não sabido, é por aí que os fios podem passar. Vê-se, mais ainda, que é possível, em torno deles, trabalhar.
    Um grande abraço,Carmen Caram

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