domingo, 11 de setembro de 2011

O campo limitado que é o da psicanálise...


Divã de Freud Museu de Sigmund Freud em Viena

Insistentemente, retornam em nossos estudos, no trabalho  e na vida de modo geral, questões  capciosas, “enrustidas”, tal como às vezes nos exige o “semblant”  de objeto em nossa escuta clínica, a propósito do ato psicanalítico.
 A leitura que tentamos seja cuidadosa do Seminário XV, não nos exime em momento algum das armadilhas e, por isso mesmo, do rigor de retomar nossos enganos e reiniciarmos após uma releitura, outro trilhamento (bahnung), às vezes  o mesmo, para nos relançarmos ao que é “necessário conhecer da estrutura lógica do ato para conceber verdadeiramente o que se passa nesse  campo limitado que é o da psicanálise” (Lacan, Seminário XV, pag.120).
Bom lembrete, aparentemente casual, de Lacan.
 Campo limitado que é o da psicanálise...
Certamente. Mas é desse, e só desse, que podemos situar, ao longo de toda uma trabalhosa experiência, novas questões concernentes ao ato e ao fazer analítico.
E é preciso, no mínimo, deixar claro, a delimitação desse campo, o da psicanálise.
 O que a psicanálise institui, em uma estrutura lógica, é a operação analítica que conjuga um ato e um fazer.
 Não é de qualquer ato que se trata, nem de qualquer  fazer que se trata.
 É fácil resvalarmos para o ‘entendimento’ de um fazer comum, já que se trata de um “fazer de pura palavra”, comum a outros tantos afazeres humanos. É fácil incorrer no “borboletear na pessoa”. O “ser é tão superabundante”!
 Entretanto, óia! Arrepara! ( Catulo da Paixão Cearense)
Existe no fazer analítico o princípio da regra fundamental: “que o sujeito se ausente disso, tanto quanto for possível”!!!
“Que um  psicanalista levante termos como ‘a pessoa’ é algo exorbitante, pelo menos aos meus ouvidos”.
A posição que vem a ser a do analista o coloca no dever de ocupar um lugar totalmente diverso daquele em que é requisitado, se age segundo a lógica de sua função. E não há lógica elástica...
O campo da psicanálise, esse que nos cabe, é mesmo limitado!
                                                                                                                         Ângela Porto
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3 comentários:

  1. Angela,
    Esta frase me tomou, me remeteu ao tão discutido dispositivo do passe e aí, é claro, Lacan aparece com toda força e genialidade de suas elaborações.

    “Que o sujeito se ausente disso quanto for possível”

    Fico pensando na frase tão repetida e fundamental para o fazer analítico:
    “o analista só se autoriza por ele mesmo”
    Sem esquecer de seu contexto histórico, o que nos leva a entendê-la como um ato inicialmente reativo, ela vem por um fim a um processo alienante em que o analista para ser assim nomeado, dependeria de um consentimento de outro que não apenas determinaria o direito, como também o desejo daquele que se candidatava a desempenhar tal função. Situação de nenhuma coerência com a independência que se espera aí neste lugar.
    Assim Lacan, em sua aguda percepção, lança um questionamento que causa uma virada, e propõe uma outra direção.
    “quem autoriza?” “o que significa autorizar?”
    Só o desejo tomado em sua força, pode colocar um sujeito em condição para assumir um compromisso, se definindo como analista.
    A causa do inconsciente, exige daquele que a abraça, já ter trabalhado exaustivamente na travessia de seu próprio fantasma.
    Penso que este é um passo(e) íntimo, privado e específico de cada um em sua singularidade. A autorização do analista depende do aval conseguido em sua própria análise.
    Enfim, não existe outra via que não a passagem corajosa pelo divã, que nos possibilite a condição de nos ausentarmos o quanto for preciso e possível.
    De fato esta não é uma lógica elástica.
    Um abraço
    Maria Elvira

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  2. Retomo aqui a frase que Maria Elvira nos lembra, frase tão repetida como ela mesma nos diz, entretanto escrita assim: O analista não se autoriza senão de si mesmo (L’analyste ne s’autorise que de lui-même). Isso me faz lembrar Lacan no Seminário do Ato Psicanalítico quando nos diz: “Como vocês sabem, a pressa é justamente o que deixa escapar a verdade... A verdade é que a falta é a perda, mas essa perda é causa de outra coisa. Chamamos de causa de si – mas no sentido do sujeito. O sujeito depende desta causa que o divide e que se chama objeto a. O sujeito não é causa de si, ele é conseqüência da perda e seria preciso que ele se colocasse na conseqüência da perda, a que constitui o objeto a, para saber o que lhe falta.” Um não é sem o outro.
    Não seria desse ponto, dessa dobradiça do não... sem, do pas... sans, onde o saber passa e é do lugar da verdade, aquela incurável de um significante que falta ao Outro? Não seria desse lugar desdobrável que o não autorizar-se senão de si mesmo tomaria sua força?

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  3. É exatamente neste 'campo limitado que é o da psicanálise'que suas questões podem se esclarecer e aprofundar! Muito bom que venham contribuições tão boas! Mais motivos de trabalho! Falta, perda, causa e...desejo do analista! A psicanálise faz isso...o incurável cria movimento!

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