quinta-feira, 15 de setembro de 2011

SEM SELOS! Elasticidades e comuns medidas realmente não nos interessam.


Tá certo, a psicanálise não é um destes remédios que, testados por amostragem significativa em alguns dos nossos, poderão ser autorizados, recomendados e enfim, veiculados pelas mídias universais como um reconhecido equivalente de cura para males que acometem a comum unidade da espécie humana.    
Acho que poderíamos dizer que um número razoável de pessoas, que já tiveram acesso direto aos escritos de Freud, mesmo que não tenham se submetido à experiência de uma análise, iriam concordar com a assertiva acima.
Mas, afinal, nós estamos no século XXI e por que não pensaríamos que um tratamento tão particularizado, sem possibilidades de uma abordagem em massa e sem o recurso de resultados rápidos em tempo previsível...por que um trabalho assim não estaria, hoje, ameaçado de extinção?

Situo aqui, na formulação desta pergunta, a seriedade e pontualidade que o texto de Ângela Porto trouxe à reflexão, com um frescor de novos ares na práxis psicanalítica.(http://tear4-psicanalise.blogspot.com/2011/09/o-campo-limitado-que-e-o-da-psicanalise.html)
Ao conjugar ‘um ato e um fazer’ nas tramas de um trabalho em análise, nós somos levados a outro enlaçamento que insere a dimensão de articulação entre ‘uma lógica e uma gramática’. Este passo na teoria parece-me decisivo para nossa real implicação na ‘seriedade’ de  possíveis avanços da psicanálise também no contexto  sócio-cultural.
Abordando os limites do campo em que se opera com a psicanálise, mais do que tornar restrito o seu alcance, estamos é nos implicando na exigência de um ‘retorno’ à matéria de nossos estudos – a pulsão, o sujeito($), o significante e o objeto(a) –, pelo rigor topológico do ‘corte’, ao qual deve-se sempre fazer referência, para que possamos defini-los em sua estrutura e operacionalidade.
Corte e retorno são os termos precisos, a que devemos lançar mão, para tratar do que há de mais fundamental na clínica psicanalítica. Há que se fazer valer um corte primeiro que engendre, a posteriori, um saber que venha incluir o corte de onde ele procedeu.
Com esta abordagem retornamos ao que seriam os termos do Ato e do Tempo que perfilam o traçado de uma experiência de análise. O que nos situa ainda no desafio da passagem à psicanálise em extensão, pois este tempo tem a duração de um ato “que não é nenhum ato do qual alguém se possa dizer inteiramente mestre”.    
Como já foi dito, neste campo “a elasticidade realmente não é o que se pode desejar de melhor para um padrão de medida.”
No ser falante o que se faz encapsulado é um satisfatório sofrer no gozo do sintoma e pra isso não há um remédio comum a todos.
A escolha terá sido sempre forçada quando se trata do salto que faz voltar ao desejo. Ter cumprido um trabalho, refazer o trançado justo da tarefa que leva a este salto, terá a marca inédita do estilo de vida de cada um.  


Lúcia Montes.

2 comentários:

  1. No ser falante o que se faz encapsulado é um satisfatório sofrer no gozo do sintoma e pra isso não há um remédio comum a todos.
    A escolha terá sido sempre forçada quando se trata do salto que faz voltar ao desejo. Ter cumprido um trabalho, refazer o trançado justo da tarefa que leva a este salto, terá a marca inédita do estilo de vida de cada um.

    É o terceiro comentário que posto e quando vou publicá-lo, perco-o. Amostra de como um trabalho analítico se faz...hehe Insisto: belíssimo e apropriado parágrafo final na postagem de Lúcia. O salto que faz voltar ao desejo, passando pelo trançado 'justo', no sentido topológico de toda a tarefa que passa pela trama da palavra,da qual a Verdade tira sua garantia, atravessando a tela do fantasma que forra a rede do Outro do significante.Salto-ato que leva a marca que franqueia o estilo de cada um de desejar na vida.Trançagem do trabalho analítico que leva do salto-alto do gozo encapsulado no sintoma, ao ato-salto de retomada do desejo ao modo singular de cada um... Será esta a 'liberdade' que poderia pretender aquele que tenha a coragem de empreender uma análise?

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  2. O comentário anterior é de Angela Porto...O sistema resiste...talvez seja mesmo a hora em que o nome próprio já se foi...

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