quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Verdade Incurável... verdade conquistada.



O Comentário recentemente escrito na postagem de 27/07/2011: “Com o perdão da palavra...” http://tear4-psicanalise.blogspot.com/2011/07/com-o-perdao-da-palavra-mal-estar.html, resultou pra mim numa súbita e engraçada conclusão em meio a sua leitura.
Lá estava a frase de Lacan: “... atirar-se contra os obstáculos que são apresentados é exatamente agir como um touro. A questão seria, justamente, passar por outro lugar que não aquele em que há obstáculos. Ou, pelo menos, não sentir um interesse tão especial por obstáculos.”
aaahh, então: Os não touros erram ....!!!

Mais além do chusto que passei, com a homofonia do título de Lacan ‘Os não tolos erram’, a elaboração que aquele escrito destacava era pontualmente naquele dia o questionamento do estudo que fazíamos do Ato Psicanalítico.

‘O Retorno a Freud é um registro do estilo com o qual Lacan delimita o corte irreversível, endereçado ao analista, em sua responsabilidade com a permanente reinvenção da psicanálise’. Essa frase pode ser encontrada, em várias modulações, transitando entre os textos temáticos deste Blog.
Temos motivos bem precisos para continuar sustentando o debate nesta via aberta e reiterada por Lacan em seu percurso laborioso da clínica psicanalítica.

Vou partir de um dos princípios que esta elaboração já fez avançar nos estudos da psicanálise.
‘Ser Falante’, quer dizer que: Aí a causa de desejo é equivalente à sua dobradura, modo como se nomeia sua divisão de sujeito.
Surgido da divisão entre os significantes S1 – S2, o Sujeito da psicanálise é sujeito da Fala e, nesta dimensão, não pertence nem a um nem a outro significante. Ele precisa da articulação entre eles já que apenas um deles, sozinho, não o representará completamente.
A divisão é sua consistência, é em que consiste sua existência no lugar do Outro, que daí surge como Campo de onde ele será ‘falado’, no gozo/uso da fala.
Equacionemos então, por um lado uma divisão discursiva: entre sujeito do significante e sujeito do gozo, e por outro lado, uma divisão estruturante: entre saber e verdade.  O referente aqui é sempre a barra: Castração é o termo lógico para que se faça valer estas operações numa análise.

Temos aqui uma base para relançar a discussão em novos estudos:
Nesta dimensão do Ser Falante, na divisão saber e verdade, trata-se da relação do ser que ‘não se pode saber’; uma certa incompetência do saber ao qual estamos presos, e que sobressai ao modo de um ‘não-saber-fazer’. “É assim que se abre uma espécie de verdade, a única que nos é acessível”, afirma Lacan, propondo interrogar a estrutura mesmo como este saber interditado, que ele nomeia de impossível. Expressão esta, interditado, que poderia ser tomada por proibido, censurado, mas que pela via do equívoco, se a escrevemos com o traço de união, como inter-dito, este saber passa a ser o que se diz entre palavras, entre linhas e é como se trata de enunciar a que forma de real este impossível nos permite acesso.

Retomando o percurso desta elaboração da estrutura e do discurso, fazemos retorno ao tema freudiano da Spaltung, da divisão do sujeito, com o qual se sustenta para nós a dimensão ética apontada no comentário da Maria Elvira, e que nos faz recolocar as perguntas sobre o Ato analítico em sua articulação com o Discurso do analista enquanto laço social:
O que tem que ser possível para que haja um analista?
Qual é a medida do esclarecimento de seu ato?

“ Já que, enquanto ele percorreu o caminho que permite este ato, ele é, desde já, ele próprio, a verdade deste ato. É esta a questão que levanto pra vocês, ao dizer que uma verdade conquistada, ‘não sem o saber’, é uma verdade que qualifiquei de ‘incurável’, se posso me exprimir assim. (...) e, efetivamente na medida em que há ato, que se imiscui na tarefa que o sustenta, trata-se de uma intervenção propriamente significante. É nisso que o psicanalista age, por pouco que seja, mas apropriadamente ele age no curso da tarefa, é ao ser capaz dessa intromissão significante que não é susceptível a nenhuma generalização que se possa chamar ‘saber’.”  [ Lacan, J. – “O ato psicanalítico”.]

Voltando ao “touro” do início ou, melhor, aprendendo a não agir como um touro, proponho continuarmos o trabalho de transcrever ‘obstáculos e resistências’ à dimensão de ‘ impasses  e  equívocos’.
Fico por aqui, à espera de contribuições que nos ajudem a avançar na direção possível da troca de idéias e destes transescritamentos...( nooosssa!!)  do Tear 4.

Nenhum comentário:

Postar um comentário