terça-feira, 18 de junho de 2013

“PASSE LIVRE” E O RETORNO DO “IMPOSTO”



 “Nosso país vai de vento em popa, em franco e sustentável crescimento....” é o que dizem os governantes. Mas em alto e enérgico tom as ruas reverberam que “A Conta Não Fechou!”.
“Quando as coisas vão muito bem, é bem possível que o sujeito vá muito mal”, alertava o velho Lacan quanto a esta história de se valer apenas dos bens da cultura em detrimento do desejo. Bom leitor e guardião que foi do pensamento de que o sujeito deverá, em algum momento, ser inserido na contabilidade e cálculo da história que ele conta e faz..., a história de seu próprio Tempo.
É lógico e necessário o “vinte centavos” na equação Brasil, que entre a acumulação de bens e a distribuição de renda, traz à luz a contagem decisiva do desejo de uma nação, que descompleta a ordem no progresso da coalizão discursiva do advento de um ‘novo império econômico’ chamado ‘nosso país’. Tributo imposto à ponta mais esticada, esgarçada e explorada na camada do pré-sal social. Discurso este que não é nada mais além de uma reinvenção ‘populista’ da antiga impostura do ‘coronelismo brasileiro’ que, em sua tosca perversidade de fazer política, mascara-se na sedutora dimensão servil
da bolsa, que  tudo cala: a família, a escola, a miséria e o respeito.
do crédito, que tudo compra: sua casa, sua vida, seu carro e seu voto.
Todo este trabalho sobre o arbitrário e excedente “vinte centavos” , da tarifa do coletivo, deve nos levar mais além do “passe livre” reivindicado como palavra de ordem. Retorno do recalcado.... “vinte centavos” convoca e exige o retorno do “imposto” devido aos cidadãos deste país, que querem com seu trabalho crescer em sua dignidade de escolha, de seu modo de viver, de seu ir e vir, de seu lazer.
A voz da rua que ontem não me deixou dormir, desperta em mim hoje os sonhos que, com o frescor de um certo entusiasmo, constato que não deixei morrer.
Deve ser isto o indestrutível do desejo, o que está fixado, radicado, na força que nos fez brotar de uma escolha entre humano e inumano , entre mundo e imundo, entre silêncio e voz.

Lúcia Montes



7 comentários:

  1. E me vem a questão: o que vem a ser "atemporal"? Será o sujeito do inconsciente que pulsa e que, nesse pulsar deixa vir a tona sua voz, seu grito? Ou será a posição que o mesmo sujeito do inconsciente se coloca diante de que lhe é imposto? Reflexões....

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    1. Este 'abre-te sésamo' do inconsciente é mesmo a posta a prova do nosso 'trabalho paciente' de provocação e espera. Essa pulsação que voce lembra, da abertura e fechamento, pra que da posição de 'fala' que o sujeito se coloca,
      ele se surpreenda como um efeito de palavra que diz mais do que ele julgava caber ou contar naquilo que foi dito. "Ressuscita-me, quero acabar de viver o que me cabe..."
      A 'atemporalidade' é que nunca se sabe antes como nem quando se dará a abertura. E só chegamos a sua entrada, quando ela já se fechou.
      Mas as coisas mudam de lugar. Há o Outro, há a Letra, há do Um.... A boa notícia, dessa trança que nos põe a trabalho no tear da psicanálise, é que ela se faz passar também, e bem mais livre, pelos chistes.

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  2. querida Ãngela,

    dia 22-sábado-Brasil na rua.

    Um é muito! Um faz a diferença.

    faça sua parte! Vamos para rua!

    foi assim contra a ditadura, as diretas já, o fora Collor....

    Não temos mais o direito de reclamar no sofá.....

    expressemos nossos desejos. Juntemo-nos aos jovens!

    É hora da cidadania ativa-agente de mudança!

    abraços afetuosos,

    claide

    obrigada pelo belíssimo texto!
    pela mais bela imagem dos últimos anos!

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  3. ótima reflexão. a psicanálise não pode recuar diante deste grito...

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  4. E assim se mantem a escritura em curso.Agradeço por Isso.
    Silvânia del Carrillo

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  5. Oi, Angela,

    gostei do que a Lúcia escreveu! E haja movimento!

    Um abraço,

    Rui

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  6. E eu que achava que estava isolada num mundo de discordância com os rumos do Brasil e, de repente, não estou mais só. São milhares que compartilham das minhas idéias e angústias. Não sou mais alguém que despertou antes da hora e ficou a espera, em sofrimento com uma pergunta sem resposta: fazer o que? Fazer o que o povo está fazendo: gritar - Basta!!! Despertar antes que seja tarde... ouvimos dizer: "felizes os que morrem dormindo", pois não passam pelo despertar final que é o saber da morte. Despertar é sair da posição de objeto guiado, comandado, nas mãos do outro. É estar verdadeiramente vivo e não um morto-vivo adormecido, entorpecido pelo gozo. É um momento precioso, mas, as pessoas não suportam estar despertadas por muito tempo, tendem a adormecer e se alienar novamente. Que se transforme o movimento social em político e se faça valer esse grito. Gilda

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