sexta-feira, 21 de junho de 2013

A PALAVRA DE ORDEM?... caiu!


foto de Sebastião Salgado


Não põe corda no meu bloco. Não vem com seu carro-chefe. Não dê ordem ao pessoal. Não traz lema nem divisa, que a gente não precisa que organizem nosso carnaval...” (João Bosco – ‘Plataforma’)

Em queda livre, arrebentando ‘as correntes que envolvem o amanhã’, a ‘palavra de ordem’ do país dos governantes felizes perdeu-se em meio a uma multidão de pessoas que neste raiar junino, seriamente, assumem o IPTU de seus próprios e legítimos territórios.
A Rua agora tem nomes, é Plural.
 Homens e mulheres, cidadãos, mais que eleitores, apresentam-se em nome próprio por uma causa pública, fazendo da língua das avenidas o coletivo de Cidadão.
Na exterioridade escancarada do gesto, em praça pública, o ato de cada um passa à ata. Eleva-se ao estatuto de um registro-presença que revela e restaura a diferença que faz agenciar os fatos.
 Fazer história.

 “E no entanto é preciso cantar, mais que nunca é preciso cantar. É preciso cantar e alegrar a cidade.” (Vinicius de Morais e Carlos Lyra)

Do ‘face’ fez-se o face-a-face.
Quando uma palavra de ordem cai, a seriedade da coisa aparece, mostra a cara, revela alguém, que num cartaz na multidão escreve seu lugar, sua voz, de onde veio.
Escreve-se a voz na multidão. 
E porque esta coisa que acontece não tem nome nem crachá, quando cai a palavra que cercava seu sentido único, ela então se avizinha do seu bom lugar. Começa a se parecer mais com seus legítimos representantes: uma série de outras palavras que falam de outras coisas... esquecidas, pacientemente guardadas.... ou, não ouvidas pelo, e no, descaso do interlocutor.
Em nosso caso agora, no Brasil, a coisa pública se atualiza em ato.
 Em nome próprio o particular dá as mãos ao particular e faz série na diferença da exigência do respeito.
Ninguém está pedindo nada. Queremos cuidar de nossos jardins. Queremos falar do que nunca deixamos de saber. Cada um na experiência do seu lugar, do seu desejo de fazer diferente.
Sair de casa, encontrar a segurança na praça povoada de ‘outras palavras’, que direcionem novos rumos... Para onde?
Não saberemos antes. 
Mas sabemos que partimos do princípio da coragem.

Acreditar na existência dourada do sol,[...]
Todo esse tempo foi igual a dormir num navio,
sem fazer movimento,
mas tecendo o fio da água e do vento....”  (João Bosco – “Rumbando” - 1976)  

Lúcia Montes



3 comentários:

  1. Do face ao face-a-face, do fake ao face-a-face com o real de nossos sonhos, ainda que umbigos, cada um que veja o seu e sua história particular, para que "esta coisa que acontece" possa ser "colonizada" por cada um em movimentos "com" que não sejam "únicos" no sentido de uma massa sem forma, ou "em-fôrma".E é a coragem que tem o efeito de fazer surgir o "a". E face-"a"-face pode promover, finalmente, "qualquercoisa" de real, mas que seja ponto de partida!Que haja efeitos de desejo para o trabalho de cada um. Seu texto, Lucia Montes tem ritmo, tem métrica, tem música, tem lógica e traz a "experiência" única de quem já viveu o que vivemos neste momento. Exemplo da "experiência do conceito" nos seus entrelaçamentos nodais...dá muita conversa, com certeza!

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  2. Estabelecer e sustentar um espaço onde apalavra possa veicular o desejo na sua singularidade é ato de coragem! Cabe a cada um de nós deixar fluir a esperança neste vazio que do desamparo se estrutura em desejo. O ato sempre abre uma passagem ao desconhecido!
    Muito bom texto, Lúcia.

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  3. Passe livre Lucia.
    Muitos gritam e a caravana pode nao passar.
    Tem de tudo em tudo e a gente precisa localizar os bandidos, porque tem bandido também neste filme. Mas sempre tem.
    O cara à cara é muito impressionante. O New York Times analisa bem direitinho, colunista da folha da informaçoes precisa em artigo noNYT, também. Estou podendo acompanhar daqui de San Francisco. Fico querendo estar ai...pra poder gritar como ontem Rejeita! rejeita! e fazer cair esta PEC insana.
    O movimento é avassalador.. e quem é que iria garantir que todos iriam se calar para sempre?
    Chega! é o que eu escutto. Chega mesmo, é o que respondo.
    Nao faço a lista, seria longa demais. Chega!
    Chega mais.
    Um beijo politico sonoro.
    Lélia

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