foto de Sebastião Salgado |
“Não põe corda no meu bloco. Não vem com seu
carro-chefe. Não dê ordem ao pessoal. Não traz lema nem divisa, que a gente não
precisa que organizem nosso carnaval...” (João Bosco – ‘Plataforma’)
Em
queda livre, arrebentando ‘as correntes que envolvem o amanhã’, a ‘palavra de
ordem’ do país dos governantes felizes
perdeu-se em meio a uma multidão de pessoas que neste raiar junino, seriamente, assumem o IPTU de seus próprios e
legítimos territórios.
A
Rua agora tem nomes, é Plural.
Homens
e mulheres, cidadãos, mais que eleitores, apresentam-se em nome próprio por uma
causa pública, fazendo da língua das avenidas o coletivo de Cidadão.
Na
exterioridade escancarada do gesto, em praça pública, o ato de cada um passa à
ata. Eleva-se ao estatuto de um registro-presença que revela e restaura a
diferença que faz agenciar os fatos.
Fazer história.
“E no entanto é preciso cantar, mais que nunca é preciso cantar. É preciso cantar e
alegrar a cidade.” (Vinicius de Morais e Carlos Lyra)
Do
‘face’ fez-se o face-a-face.
Quando
uma palavra de ordem cai, a seriedade da coisa aparece, mostra a cara, revela
alguém, que num cartaz na multidão escreve seu lugar, sua voz, de onde veio.
Escreve-se
a voz na multidão.
E porque esta coisa
que acontece não tem nome nem crachá, quando cai a palavra que cercava seu
sentido único, ela então se avizinha do seu bom lugar. Começa a se parecer mais
com seus legítimos representantes: uma série de outras palavras que falam de outras coisas... esquecidas, pacientemente
guardadas.... ou, não ouvidas pelo, e no, descaso do interlocutor.
Em
nosso caso agora, no Brasil, a coisa pública se atualiza em ato.
Em nome
próprio o particular dá as mãos ao particular e faz série na diferença da
exigência do respeito.
Ninguém
está pedindo nada. Queremos cuidar de nossos jardins. Queremos falar do que nunca
deixamos de saber. Cada um na experiência do seu lugar, do seu desejo de fazer
diferente.
Sair
de casa, encontrar a segurança na praça povoada de ‘outras palavras’, que direcionem novos rumos... Para onde?
Não
saberemos antes.
Mas sabemos que partimos do princípio da coragem.
“Acreditar
na existência dourada do sol,[...]
Todo
esse tempo foi igual a dormir num navio,
sem
fazer movimento,
mas
tecendo o fio da água e do vento....” (João Bosco – “Rumbando” - 1976)
Lúcia
Montes
Do face ao face-a-face, do fake ao face-a-face com o real de nossos sonhos, ainda que umbigos, cada um que veja o seu e sua história particular, para que "esta coisa que acontece" possa ser "colonizada" por cada um em movimentos "com" que não sejam "únicos" no sentido de uma massa sem forma, ou "em-fôrma".E é a coragem que tem o efeito de fazer surgir o "a". E face-"a"-face pode promover, finalmente, "qualquercoisa" de real, mas que seja ponto de partida!Que haja efeitos de desejo para o trabalho de cada um. Seu texto, Lucia Montes tem ritmo, tem métrica, tem música, tem lógica e traz a "experiência" única de quem já viveu o que vivemos neste momento. Exemplo da "experiência do conceito" nos seus entrelaçamentos nodais...dá muita conversa, com certeza!
ResponderExcluirEstabelecer e sustentar um espaço onde apalavra possa veicular o desejo na sua singularidade é ato de coragem! Cabe a cada um de nós deixar fluir a esperança neste vazio que do desamparo se estrutura em desejo. O ato sempre abre uma passagem ao desconhecido!
ResponderExcluirMuito bom texto, Lúcia.
Passe livre Lucia.
ResponderExcluirMuitos gritam e a caravana pode nao passar.
Tem de tudo em tudo e a gente precisa localizar os bandidos, porque tem bandido também neste filme. Mas sempre tem.
O cara à cara é muito impressionante. O New York Times analisa bem direitinho, colunista da folha da informaçoes precisa em artigo noNYT, também. Estou podendo acompanhar daqui de San Francisco. Fico querendo estar ai...pra poder gritar como ontem Rejeita! rejeita! e fazer cair esta PEC insana.
O movimento é avassalador.. e quem é que iria garantir que todos iriam se calar para sempre?
Chega! é o que eu escutto. Chega mesmo, é o que respondo.
Nao faço a lista, seria longa demais. Chega!
Chega mais.
Um beijo politico sonoro.
Lélia