quarta-feira, 16 de março de 2011

TRISTES ÁGUAS DE MARÇO.

      Japão, "sem cor, sem perfume, sem rosa, sem nada"

Flagrante de moradores de Tokai-jishin em fuga...de onde pra onde???

O Mundo assustado, será que já acordou do dia de ontem?
Cada povo noticia, a seu modo. Cada cidadão, estupefato, supõe-se impotente diante de tamanha tragédia. E, até quem sabe, sofre um pouquinho mais... Mas, o que pensar de tudo isso? O que fazer, se tudo aconteceu tão longe, lá?

 “Quanto tempo pode durar um espanto?” [Chico Buarque/Caetano Veloso]    
... se há tanto tempo viemos nos ajustando à desregrada geração de crianças, que rapidamente desaparecem entre os milhares e milhares de seres-coisas, alinhados com a miséria que resta nos lixões, sem escoamento, da civilização...  
E tantas outras, também eficazes, formas da reprodução aviltante de quaisquer objetos-coisas, a serviço da proliferação de quaisquer consumistas-coisas,
atendendo ao mero apelo de tê-los acumulados... para quê?..., se estarão totalmente obsoletos ao serem revisitados?
Continuamos no espanto...
 mas, que Coisa buscar nos entulhos do Caos?
O que brotaria das raízes de Vinícius hoje? Como colher a poesia destas ruínas da mansão imperial e imperativa da cultura? “Onde lançar a voz?”
Desamparados, cá estamos nós, outra vez tão perto das “meninas, cegas inexatas”, das “mulheres, rotas alteradas”. O sobrevôo do antigo ataque inimigo superou o tempo e transforma-se agora em bomba-caseira.
Por um lado, podemos afirmar que a mesma arma, cobiça de tantas pesquisas e investimentos pra desvendar os segredos da destruição, foi reproduzida tal e qual, ficou escondida, também segredada, no quarto de brinquedos de seu próprio país e lá adquiriu raízes profundas.
Mas, por outro lado podemos dizer que nada disto é sem qualquer saber.

“As palavras têm antepassados, os feitos têm senhores.” [Lao-Tzu]
Terremotos sempre existiram... Ondas gigantes?... o mar sempre teve que
se ajeitar e fazer seu litoral nas entre linhas da terra que, por sua vez, trança rios dos raios transparentes do sol e da lua, trazendo também bons ventos...
E nós?...,
 pobres de nós que queremos tudo habitar, invadindo espaços e erigindo totens onde outras vidas deveriam se alojar,
 que trocamos insistentemente o curso dos rios, lambuzamos de ouro as estátuas.
Ilusionistas da anti-matéria, mapeamos o itinerário do poder e do raio laser a todo custo.
Portanto, como fechar os olhos agora para o que já era sabido: chegaríamos muito rápido à milésima potência do velho sopro plantado em Hiroshima, conduzidos pela mão firme que indicava o regozijo de uma virtual emancipação.
É isso... aí está o Mundo!
Mas, como ainda acreditamos tratar-se aqui, também, do alcance que tem a força da matéria fina que gravita este universo, nosso olhar busca o humano em sua singularidade.
Voltemos então ao particular para que não fique esquecido que,
nesta dita mansão,  o planeta é o próprio corpo,
suas usinas dependem de reposições letradas,
seu aparelho se refaz no descanso do sentido e, em suas noites, o corpo carece do silêncio do sono, para se nutrir de algum sonho, gerador de bons tempos entre os povos.

Lúcia Montes



2 comentários:

  1. É isso aí. Muito forte o texto. Asvezes a gente precisa de se indignar. A propósito, vcs viram biltiful? vale conferir

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  2. Não dá prá ficar alheio. Lá é Aí! e Longe é Aqui!
    Voces me fizeram lembrar uma passagem que foi decisiva na minha leitura trabalhos de Freud, está no texto da "Negativa":
    "Não há prova mais contundente de que fomos bem sucedidos em nosso esforço de revelar o inconsciente, do que o momento em que o paciente reage a ele com as palavras 'Não pensei isso' ou 'Não pensei (sequer) nisso' "

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