A partir da leitura de interessante artigo de Eliane Brum, na revista Época de 25/02/2013, intitulado "O Doping das Crianças", o que o aumento do consumo da "droga da obediência", usada para o tratamento do chamado 'Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, revela sobre a medicalização da educação?http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/eliane-brum/noticia/2013/02/o-doping-das-criancas.html, Aurea Porto, de suas reflexões sobre a clínica e de seu trabalho no Tear 4, nos encaminha as seguintes observações:
"Assim
como todos os excessos que o discurso vigente, esse do consumo, nos impõe, o
montante de informação e seus meios também não fogem a essa regra.
Atravessam
nosso corpo, nos assolam com sua intensidade e com seu exagero.
As crianças
estão cada dia mais inteligentes e estimuladas .
O corpo não consegue mais
conter o sujeito desse discurso.
Esse corpo cuja integridade depende do
Outro que o delimita e o funda se vê às voltas com os excessos do discurso. São demais para ele, descartáveis demais para ele.
Não se sabe por onde passa o desejo, porque o que falta na estrutura de cada um ( o que é da ordem da castração da qual ninguém quer saber) é preenchido com sabe-se lá que objeto...
Não interessa qual.
Interessa a sua capacidade de ser substituído o mais rápido possível. Seu carácter passageiro.
Não se sabe por onde passa o desejo, porque o que falta na estrutura de cada um ( o que é da ordem da castração da qual ninguém quer saber) é preenchido com sabe-se lá que objeto...
Não interessa qual.
Interessa a sua capacidade de ser substituído o mais rápido possível. Seu carácter passageiro.
Temos aí
os obesos, os anoréxicos os acumuladores, os hiperativos, os deprimidos, os
ejaculadores precoces e outros. Todos doentes do desejo. Por não saber por onde
ele, o desejo,anda, se ainda existe.. Se ainda existe esse desejo que passa por um corpo que faz a
contenção psíquica do sujeito e que é o leito de suas palavras."
Áurea Porto
Aurinha,
ResponderExcluirvou indo por esta reabertura que você faz. Acho que é disso que se trata no contexto clínico em que a escritura, ou sua impossibilidade, indicam a inserção do discurso do analista também nos caminhos do sintoma ‘na cultura’.
A trajetória traçada por sua leitura do ‘conjunto familiar’, torna viável prá mim a formulação de algumas questões importantes sobre este lugar da ‘criança’ aí, enquanto resto deste conjunto ou grupo familiar. Ou seja, enquanto aquilo que sobra deste grupo e ao qual ele fica limitado, uma vez que esse resto-criança torna-se ao mesmo tempo testemunha e suporte de uma impossibilidade de escrever a “relação sexual”.
Não sei se é exatamente este o raciocínio, mas me parece que tudo o que ‘socialmente’ se institui a partir daí, deste arriscado e perigoso ‘jogo médico-familiar’, fica restrito aos becos sem saídas da Demanda. E aí, nesse caso:
`a esse resto-criança, o que resta ? Quem o nega ? Quem o consome ?
Manter assim fechado este circuito da Demanda, fazendo-o girar apenas em torno da chama ardente do Saber e da Mestria já foi fonte de muitas outras orgias sacrificiais em nossa ‘humanidade’...
Mas quero fazer valer aqui que vivemos ainda, também, sob a égide de uma ‘não-toda’ imunidade ao desejo quando testemunhamos, em nosso dia a dia, a viabilização de um ‘outro modo’ de discurso. Este que ao modo de cada um, a qualquer momento poderá nos surpreender escrito entre nós. Este que por ser sempre inédito terá preservada sua autenticidade operando cortes na rede das cumplicidades...
Lúcia Montes
Médicos e medicamentos estão sendo consumidos com excesso, e a falta de um interesse sobre o desejo do paciente, ou o fato de realmente acreditar que pode-se conter, moldar seres falantes com medicação tem contribuido para este 'jogo médico familiar'que cada vez mais des-responsabiliza o sujeito de seus atos.
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