No seminário do Ato, lição de 13 de março de 1968, diz
Lacan:
“A psicanálise, ela se pratica com um psicanalista”.
Adoro as supostas
obviedades de Lacan.
São supostas, as obviedades da psicanálise, do discurso, da vida.
Aquilo que não
exigiria esclarecimento, por parecer claro, por estar diante dos olhos.
Tal afirmativa de Lacan pode sugerir a colocação do psicanalista num lugar cheio de atributos
especiais, dos quais é preciso fazer avaliação, verificar ‘curricula vitae’, como o bom latim exigiria,
e, no seu plural, conferir afiliações
psicanalíticas?
Pelo contrário, com um psicanalista não enfatiza o psicanalista, mas o com.
Com aponta para a instrumentalidade do lugar, da função, sem o que, uma psicanálise não seria factível.
Com aponta para a instrumentalidade do lugar, da função, sem o que, uma psicanálise não seria factível.
E a factibilidade de uma psicanálise só se pode
pensar, na sua essência, de uma posição “impensável”,
qual seja a de um “tendo sido psicanalisando”, da qual só resulta “um
sujeito prevenido de que não poderia se
pensar como constituinte de toda ação
sua”.
Pois se a sua essência é assumir o lugar onde se situa o objeto ‘a’ nesta operação, qual é o estatuto de um sujeito que se coloca nesta posição?
Pois se a sua essência é assumir o lugar onde se situa o objeto ‘a’ nesta operação, qual é o estatuto de um sujeito que se coloca nesta posição?
Em psicanálise não há ‘óbvio’.
O óbvio é evidente, claro, indiscutível, cercado de certeza,
declarado, inteiro.
Lacan diz que há uma “coalescência
da estrutura com o sujeito suposto saber, é isso que atesta no neurótico o fato
de ele interrogar a verdade de sua
estrutura e de se tornar, ele mesmo, em carne e osso, essa interrogação. Em
suma, ele mesmo é sintoma.”(Sem XVI, pagina 374)
O
óbvio, o analista deve tomá-lo como um
“eu não vejo” que exige
trabalho de corte, de ‘tranchement’(fatiamento, trinchamento).
Entretanto o analista
não é um mestre em seus cortes, nem no manejo de suas facas.
Ele é “tranchements”, fatia incluída no corte.
Ele é “tranchements”, fatia incluída no corte.
Talvez, haja, como diz
Nelson Rodrigues, “óbvios
ululantes”.
Óbvios que ululam.
Esses, talvez, já incluam, na coalescência com a estrutura,
um grito, um brado, a vociferação de um sofrimento que se quer dizer, uma pergunta que
se pode fazer trabalho, com um psicanalista.
Ângela Porto
Ângela Porto
BRAVÔ !!!!!
ResponderExcluirMaria Mercedes Brito
Angela! que " leitura/grito " interessante!! É preciso escutá-lo!
ResponderExcluirbjs
Rosely
Adorei Ângela,
ResponderExcluirUm grande beijo,
saudades!
Bárbara
Sem óbvio, mas não sem tornar-se "ele mesmo... essa interrogação", num grito: o que que é Isso?
ResponderExcluirSe há algum óbvio, do lado do analista, é não deixar de perguntar-se, a cada escuta: há analista? Óbvio sim, que não podemos parar de inquietar-nos, nessa tarefa de dirigir uma análise, sem qualquer técnica garantidora, sobre a ética da psicanálise, a ética que se impõe ao posicionar o analista em "a", objeto como causa.
Essa posição de conduzir uma análise, causar no sujeito o desejo de ir em direção ao desconhecido, ao campo do nada óbvio, só pode mesmo ser da ordem do impossivel.
Bj
Carmen
Oi Lúcia,
ResponderExcluirFiquei passeando pelo Tear4, apreciando a escrita de vcs, as articulações,a insistência na ética da psicanálise e seus efeitos...muito, muito bom.Gostei de ser apresentada à escritora portuguesa Lídia Jorge, que fala sobre o tempo em 1947, ( aquele fragmento foi p/mim da ordem de uma experiência). Bom feriado,grande abraço,
Regina
obs do blogger: vide http://tear4-psicanalise.blogspot.com.br/2012/04/pelo-avesso-da-banalizacao.html
Oi Tia, há muito não tenho lido textos psicanalíticos. Tive que fazer um exercício mental enorme para fazer compreensível algumas partes. Foi em um determinado momento depois da terceira leitura, pude, na minha compreensão de quem perdeu o costume de ler textos mais complexos, mas de gente que pensa, pude perceber que o texto falava exatamente disso. O que não é obvio e que nos coloca em movimento com o texto. Gostei! Beijos e saudades... vai uma foto da Clarinha. Tô te esperando por aqui pra gente tomar um banho de Igarapé e um gostoso tacacá.
ResponderExcluirNanda
o óbvio com um psicanalista. Muito bom o texto todo. Beijos
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