"Vim ...duas vezes, como prometi à minha mãe"...
"Minha mãe me disse para eu 'ajudá-la', vindo menos à
minha análise...ela está 'apertada'..."
"Minha mãe acha que eu preciso..."
“Com efeito, é muito simplesmente – e diremos em que sentido – como
desejo do Outro que o desejo do homem ganha forma, porém, antes de mais nada,
somente guardando uma opacidade subjetiva, para representar nele a necessidade.
Opacidade que diremos de que maneira constitui como que a substância do desejo.
O desejo se esboça na margem em que a demanda se rasga da necessidade:
essa margem é a que a demanda, cujo apelo não pode ser incondicional senão em
relação ao Outro, abre sob a forma da possível falha que a necessidade pode aí
introduzir, por não haver satisfação universal (o que é chamado de angústia).
Margem que, embora sendo linear, deixa transparecer sua vertigem, por mais que
seja coberta pelo pisoteio de elefante do capricho do Outro. É esse capricho,
no entanto, que introduz o fantasma da Onipotência, não do sujeito, mas do
Outro em que se instala sua demanda ( já era tempo de esse clichê imbecil ser
recolocado de uma vez por todas, e por todos, em seu devido lugar), e ,
juntamente com esse fantasma, a necessidade de seu refreamento pela Lei.”
Interessante, longo e definitivo
parágrafo da “Subversão do sujeito e dialética do desejo”, que contem, no seu
desenvolvimento, praticamente todos os princípios da constituição do sujeito,
de sua alienação significante, de suas relações com a fantasia, na
particularidade de sua demanda, e, até, o direcionamento ético da experiência
analítica, e se o quisermos assim aprofundar, o lugar e a implicação também
definitiva do analista, desde a transferência, em todo o processo.
Vejamos
algumas colocações breves do parágrafo:
“ ...é como desejo do Outro que o desejo do homem ganha
forma...”
Não há constituição possível do
sujeito, desde que tomemos o inconsciente estruturado como linguagem, sem o
concurso do Outro, lugar do tesouro dos significantes, ao qual, desde sempre e
para sempre o sujeito estará a-sujeitado, como falante. É desse Outro que o
sujeito recebe a própria mensagem que emite, esse Outro que também é testemunha
da Verdade, da ficção posta como Verdade, da estrutura de ficção que institui e
incumbe a realidade de sua versão particular e fantasmática.
O desejo do homem “ganha forma”,
fôrma engendrada pelo que, “do Outro”, o subjuga radicalmente.
“Do Outro” também indica a
pertinência fantasmática a que o sujeito, desta posição de opacidade subjetiva,
pode fazer-se experimentar, no fantasma, como objeto do desejo do Outro.
“O desejo se esboça na margem em que a demanda
se rasga da necessidade..Margem que embora sendo linear, deixa transparecer sua
vertigem...por mais que seja coberta pelo pisoteio de elefante do capricho do
Outro”
“Vertigem: sensação de falta de equilíbrio no espaço, que faz
parecer ao indivíduo girarem todos os objetos á sua volta;desmaio,desfalecimento,
síncope, delíquio(liquefação de um corpo sólido).”(dicionário informal, on-line)
Lacan aqui se refere ao papel tamponador do fantasma, onde,
de seu desejo, o sujeito se esquiva, como objeto. ($<>a)
E aqui é interessante considerar que o “refreamento pela
Lei” a que Lacan se refere, inclui levar em conta a autonomia do desejo e a
mediação que o mesmo é capaz de fazer por inverter o incondicional da demanda
de amor pelo qual o sujeito permaneceria sob o jugo do Outro, para “elevá-lo à
potência da condição absoluta” ( onde o absoluto quer dizer desprendimento).
Isto quer dizer que, é preciso extrair do fantasma os
“índices de uma significação absoluta”. Fazer isso é romper o elemento
fonemático constituído pela unidade significante até seu átomo literal. A
fórmula do fantasma é introduzida para permitir um sem número de leituras das
relações entre sujeito e objeto, na sua particularidade radical, até o
esvaziamento da demanda.
Para o que, conta-se
com um analista.
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