sexta-feira, 12 de abril de 2013

É como desejo do Outro que o desejo do homem ganha forma...







"Vim ...duas vezes, como prometi à minha mãe"...
"Minha mãe me disse para eu 'ajudá-la', vindo menos à minha análise...ela está 'apertada'..."
"Minha mãe acha que eu preciso..."

“Com efeito, é muito simplesmente – e diremos em que sentido – como desejo do Outro que o desejo do homem ganha forma, porém, antes de mais nada, somente guardando uma opacidade subjetiva, para representar nele a necessidade. Opacidade que diremos de que maneira constitui como que a substância do desejo.
O desejo se esboça na margem em que a demanda se rasga da necessidade: essa margem é a que a demanda, cujo apelo não pode ser incondicional senão em relação ao Outro, abre sob a forma da possível falha que a necessidade pode aí introduzir, por não haver satisfação universal (o que é chamado de angústia). Margem que, embora sendo linear, deixa transparecer sua vertigem, por mais que seja coberta pelo pisoteio de elefante do capricho do Outro. É esse capricho, no entanto, que introduz o fantasma da Onipotência, não do sujeito, mas do Outro em que se instala sua demanda ( já era tempo de esse clichê imbecil ser recolocado de uma vez por todas, e por todos, em seu devido lugar), e , juntamente com esse fantasma, a necessidade de seu refreamento pela Lei.”

Interessante, longo e definitivo parágrafo da “Subversão do sujeito e dialética do desejo”, que contem, no seu desenvolvimento, praticamente todos os princípios da constituição do sujeito, de sua alienação significante, de suas relações com a fantasia, na particularidade de sua demanda, e, até, o direcionamento ético da experiência analítica, e se o quisermos assim aprofundar, o lugar e a implicação também definitiva do analista, desde a transferência, em todo o processo.
                Vejamos algumas colocações breves do parágrafo:
“ ...é como desejo do Outro que o desejo do homem ganha forma...”
Não há constituição possível do sujeito, desde que tomemos o inconsciente estruturado como linguagem, sem o concurso do Outro, lugar do tesouro dos significantes, ao qual, desde sempre e para sempre o sujeito estará a-sujeitado, como falante. É desse Outro que o sujeito recebe a própria mensagem que emite, esse Outro que também é testemunha da Verdade, da ficção posta como Verdade, da estrutura de ficção que institui e incumbe a realidade de sua versão particular e fantasmática.
O desejo do homem “ganha forma”, fôrma engendrada pelo que, “do Outro”, o subjuga radicalmente.
“Do Outro” também indica a pertinência fantasmática a que o sujeito, desta posição de opacidade subjetiva, pode fazer-se experimentar, no fantasma, como objeto do desejo do Outro.
 “O desejo se esboça na margem em que a demanda se rasga da necessidade..Margem que embora sendo linear, deixa transparecer sua vertigem...por mais que seja coberta pelo pisoteio de elefante do capricho do Outro”
Vertigem: sensação de falta de equilíbrio no espaço, que faz parecer ao indivíduo girarem todos os objetos á  sua volta;desmaio,desfalecimento, síncope, delíquio(liquefação de um corpo sólido).(dicionário informal, on-line)
Lacan aqui se refere ao papel tamponador do fantasma, onde, de seu desejo, o sujeito se esquiva, como objeto. ($<>a)
E aqui é interessante considerar que o “refreamento pela Lei” a que Lacan se refere, inclui levar em conta a autonomia do desejo e a mediação que o mesmo é capaz de fazer por inverter o incondicional da demanda de amor pelo qual o sujeito permaneceria sob o jugo do Outro, para “elevá-lo à potência da condição absoluta” ( onde o absoluto quer dizer desprendimento).
Isto quer dizer que, é preciso extrair do fantasma os “índices de uma significação absoluta”. Fazer isso é romper o elemento fonemático constituído pela unidade significante até seu átomo literal. A fórmula do fantasma é introduzida para permitir um sem número de leituras das relações entre sujeito e objeto, na sua particularidade radical, até o esvaziamento da demanda.
Para o que, conta-se com um analista.

 Ângela Porto

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