quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Românticos... são poucos? Românticos... são loucos?



Românticos são poucos
Românticos são loucos
Desvairados
Que querem ser o outro
Que pensam que o outro
É o paraíso... (Românticos, Vander Lee)

Quando a paciente, ao sair de uma sessão ‘triunfante’ de hipnose, lança os seus braços em torno do pescoço de Freud, ele, embora possa ter se comovido, não se deixa enganar pelas armadilhas que o amor providencia. A ‘hipnose e o estar amando’ andam de braços dados e, se servem à análise, só o fazem ao preço de serem perdidos pela operação de corte que extraia, de suas roupagens amorosas e narcísicas, o objeto a.
Freud desconfia do amor: “Ela me toma por um outro”, “não sou tão irresistível assim”, há qualquer coisa além de 'mim' e do 'amor por mim'. Mas ele sabe que está implicado nisso.
O drama humano do desejo só se toca por esse momento de emergência, fulminante, entre dois mundos, “entre o despertar de um sonho hipnótico e o a, subitamente estreitado nos braços da histérica”. A histérica é, por assim dizer, já psicanalisanda, a caminho de uma solução. Ela implica o sujeito suposto saber na questão que coloca para Freud, que “é tomado por um Outro”, que a escuta e é questionado. “Não sou tão irresistível assim”, mas há um que é...?
“A coalescência da estrutura com o sujeito suposto saber, é isso que atesta, no neurótico, o fato de ele interrogar a verdade de sua estrutura e de se tornar, ele mesmo, em carne e osso, essa interrogação. Em suma, ele mesmo é sintoma. Se há uma coisa que pode derrubar isso, é precisamente a operação do analista, que consiste em praticar o corte graças ao qual a suposição do sujeito suposto saber é desligada, separada da estrutura.”(Lacan, sem XVI, lição de 18 de junho de 1969)
Seriam ainda românticos os que pretendam se tratar do amor? Ou tratá-lo?
Se o funcionamento do tratamento analítico se baseia num corte subjetivo que leva do que dizemos de um desejo inconsciente à suposição de que um sujeito acabe sabendo o que quer...e se o saber e o que queremos se distinguem...há um lugar onde isso será possível?
 Não se trata do lugar onde se diz ‘sim’ ou ‘não’. Isso se chama vontade.
 Um saber-o-que-ele-quer , Lacan sugere, é esse o próprio desejo. 

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