quarta-feira, 4 de maio de 2011

uma insônia, um ombro travado, uma tosse, uma fisgada no peito....-'a'tores para uma Outra Cena -

A vida que nos leva no leito das palavras, com que interpretamos nossos desejos, não é exatamente a mesma vida que levamos, instalados nas margens estreitas do prazer almejado no dia a dia.
A insistência de signos comandados pelo princípio do prazer têm, quase sempre, a dimensão de um alerta que cifra alguma insatisfação naquilo que parecia ser o melhor deleite da situação em causa.  
Isso quer dizer que a rede dos significantes que nos são dados pela Cultura, deve se abrir a um mais além da realidade que a singularidade destes sinais-atores anunciam, no seu retorno, de um Real que teria escapado à representação do sujeito.
Uma outra realidade faz sua existência no cenário do nosso cotidiano aparentemente bem montado.
A linguagem penetra nas coisas, crava-lhes sulcos, revira-as, pode até vir a subverte-las. Mas uma vez que buscamos dar estatuto de humanidade à função da palavra, é preciso definir bem o campo da linguagem em que iremos interrogar o Sujeito.
Freud traz à cultura a proposição de um certo ‘primarismo’ na linguagem, nomeado por ele de processo primário, que já teria o Inconsciente como efeito de interrogação nessa anterioridade lógica da linguagem para o ser falante.
A captação do sujeito na rede dos significantes converge assim para um vazio. Vazio este bastante incômodo de abordar por se constituir através da encarnação do sujeito enquanto castração, e convertido no órgão da falta-ausência que é o falo.
Este vazio só é manejável porque cria o próprio continente que o envolve, destacando do próprio corpo os tais repetidos sinais-atores, restos testemunhas de uma falha na linguagem.
Repetição que, enquanto ato sintomático, imiscui a diferença levada ao significante e que nos atesta que o Sujeito é um efeito de linguagem.  
“Aquilo que foi, se repetido, difere, e se faz sujeito a ser reeditado” [Lacan],
pelo Ato do analista que extrai do vazio a função de causa que terá para o desejo.

Lúcia Montes.              

Um comentário:

  1. é isto mesmo as torções têm significados mais profundos nelas encobertos. Eu fui a uma fisioterapeuta que já frequento a algum tempo em função de um nó. O nó sempre aparecia no ombro mas últimamente tem mudado de lugar. Durante a última seção de massagem que fiz a fisioterapeuta me perguntou: -você me disse que tem feito exercícios regulares, está cuidando do corpo, então será que este nó tem algo de emocional? não é que aquilo me bateu, no final da massagem comecei a chorar e aí me dei conta que o nó andava, mas sempre estava do lado direito, no ombro, na escapula, no quadril. Era sempre deste lado que carregava meu filho que agora está com cinco anos e não precisa mais ser carregado. é isto aí preciso solta-lo... e então o nó também se soltará. Adorei a materia respondo por que sei da importancia da psicanálise, já fiz análise e é por isto que consigo chegar hoje aos significados encobertos nos nós.
    Guiomar

    ResponderExcluir