quarta-feira, 10 de novembro de 2010

EXCESSOS.... NEM DE LONGE NEM DE PERTO, / ENTRE /

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O curioso e radical, que a psicanálise pode nos ajudar, na retirada dessas preconceituosas sendas dos julgamentos humanos é trazer à luz e não recuar no exercício de suas investigações, tanto sobre este contingente de normalidade que a civilização tenta abordar, quanto a ordem de moralismos que se tenta impor, engessar e até mesmo desumanizar vidas em detrimento de preceitos de adaptações ao mercado modelo de comportamentos, individual e de massa.
Curioso e radical até mesmo porque alguns destes alertas de que deveríamos olhar, também, pra outros lados, ampliar os horizontes da investigação humana, estão na roda, mas tão atuais, tiveram início ainda no século XIX.. Estão na roda porque o trabalho pra tornar pública suas pesquisas e construções teóricas, foi um dos incansáveis propósitos de Freud e podem ser lidos hoje, espera-se mesmo que o seja, por qualquer cidadão leigo e isso é o que faz da psicanálise não só um saber a ser sempre reinventado, como também uma prática posta à prova cada vez que alguém se lança na aventura de decifrar e refazer os caminhos de sua história diante de um analista.
Ao se distanciar de qualquer julgamento sintético à priori:
o analista acaba por se situar na delicada, e nada confortável, posição de acolher a história que é contada da maneira e ao modo que cada um traz como certo que aquele foi o vivido de seus mais íntimos segredos. E ainda assim uma análise não é uma confissão.
Ao se distanciar de qualquer julgamento sintético à priori:
o analista espera que, em algum detalhe sutil, o sujeito se traia na justa proporção daquilo que ele julgava saber de si mesmo, surpreendendo-se com a falta de sentido de um saber que lhe foi imposto. E ainda assim uma análise não é uma reeducação.
Ao se distanciar de qualquer julgamento sintético à priori:
o analista não se esconde sob a aparência de só agir para o bem: que teria por conseqüência conformismos, ou quaisquer deveres reconciliatórios que instalem seu trabalho na categoria das identificações em série. Uma análise não é uma correção do desejo.
O que justifica a intervenção da operação analítica é o excesso de sofrimento. Aquele sofrer demais, paralisante e alienante, que acomete o ser humano, em sua mais desamparada particularidade de ser falante. E para isso não há meias medidas ou facilidades, há uma ética que deve manter a estrutura da divisão subjetiva naquilo que é a raiz que suporta o desejo em nós: não há uma relação de simetria entre a história e a estrutura, ou entre o discurso e a clínica.
O sujeito neste contexto é o sujeito por estrutura dividido, e neste campo o trabalho opera nas polaridades que esta divisão exige da leitura que se faz pela escuta do inconsciente: o discurso se modula entre o sujeito do significante e o sujeito do gozo, e a clínica se reescreve pela subversão da errância de algum saber.
Os Normais vêm por acréscimo.... 
           
  Lucia Montes

4 comentários:

  1. "o analista não se esconde sob a aparência de só agir para o bem: que teria por conseqüência conformismos, ou quaisquer deveres reconciliatórios que instalem seu trabalho na categoria das identificações em série. Uma análise não é uma correção do desejo."
    "E para isso não há meias medidas ou facilidades, há uma ética que deve manter a estrutura da divisão subjetiva naquilo que é a raiz que suporta o desejo em nós: não há uma relação de simetria entre a história e a estrutura, ou entre o discurso e a clínica."

    Lucia, muito bem elaborado e esclarecido por vc o nosso trabalho enquanto analistas e a recolocação clara e necessária entre o que é moral e o que é ético, em se tratando de psicanálise!Meias medidas, facilidades,o bem e o mal só cabem naquilo que se refere aos "mores"...o costume e o costumeiro e a lei, enquanto normativa disso. Muito bem colocadas suas observações! o "Entre"também ficou muito legal porque não só alude a esse interstício significante, onde o sujeito pode se fazer vislumbrar, mas soa como um convite atodo aquele que se dispuser...diz puser a colocar de seu numa análise e aí sim, reescrever algum saber sobre isso...Angela

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  2. Vol.XVIII - Obras completas - S.Freud
    Sobre o funcionamento do saber inconsciente nas redes do psiquismo humano, nas relações entre parceiros, do amor e do sexual,impõe-se o fator quantitativo...
    "As fantasias patogênicas, derivativos de moções pulsionais recalcadas, são por longo tempo toleradas juntamente com a vida normal da mente e não têm efeito patogênico até que, por uma revolução na economia libidinal, recebem uma hipercatexia; somente então irrompe o conflito que acarreta a formação dos sintomas. Assim, à medida que nosso conhecimento cresce, somos cada vez mais impelidos a trazer o ponto de vista 'econômico' para primeiro plano."
    Aumento de 'resistência' numa corrente implica em hipercatexia de outra via, desviando o fluxo para esse caminho.

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  3. Seu texto ,dia 10 , foi para mim esclarecedor nas
    referências feitas
    de como a psicanalise pode nos ajudar" na retirada dessas
    preconceituosas sendas dos julgamentos humanos"
    Gostei ... pois este foi o meu primeiro caminho ao terminar meus
    trabalhos de 20 anos num centro de defesa de direitos humanos ao
    procurar na psicanálise um espaço para investigaçaõ sobre
    a condiçaõ humana.

    E quando voçe diz que a analise não é uma confisssão; não
    é uma reeducação; não é uma
    correçaõ do desejo

    abraços , obrigada pela colaboração. Ate apróxima reunião.
    Lucia Cunha Frota

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  4. O que voces escreveram antes é que me levou a esta elaboração. As passagens estreitas que seus escritos anteriores atravessaram foi que deu uma boa arejada no osso duro de roer, que às vezes são os textos e os temas clínicos de nossos estudos e conversas da segunda feira. Agora dá até prá curtir mais o feriado....
    abração.

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