Criantia, do latim, é o
que está em criação...
Este livro, se origina de outra criação, o
blog “Criantia e Contos”(www.criantiaecontos.blogspot.com), on-line desde 2010. Pretendi
que fosse um lugar de escrita aberto aos que se dispusessem a ler, nos contornos
das palavras de uma criança ou nas entrelinhas do que ela não consegue dizer, a
rica elaboração de seu momento, sempre pulsante e cheio de perguntas.
Entre
esses me incluí, como um ouvinte atento e como blogger. Talvez me parecesse o
lugar mais assemelhado ao lugar de um analista.
Um
blogger é um mediador. Através dele, pretende-se que um vazio, este sim,
mediador verdadeiro, possa permitir trançar e escrever, daquilo que nos
trabalha, desde uma palavra até uma interjeição, desde um desenho até um
rabisco vindos de onde vierem, chegue até onde chegar... nossa experiência.
Ali me deixei trabalhar pelas questões das
crianças, aquelas cuja proximidade me foi mais rica, de cuja escuta me vali,
para, por que não, tratar o que, do mais íntimo e particular de cada um, está
sempre em tratamento: a vida.
Da
exigência do trabalho à cordialidade da forma, não há necessariamente
incompatibilidade. O cordial é o
que vem do coração. Não se pretendem interpretações psicanalíticas, nem
reflexões pedagógicas ou educativas. Não há correções nem censuras que durem mais
que o segundo esperado da presença de um adulto, ouvinte sujeitado às regras da
cultura e tocado pela surpresa.
Os ditos e fatos falam por si. Eventualmente faço
comentários, talvez como efeitos de minha inserção neles, como ouvinte,
participante ou até mesmo, como sujeito interpretado por um dizer(!) Talvez por
puro prazer!
As estorinhas das crianças primam pela leveza.
São breves, condensadas e provocam surpresa, pois abrem um espaço à verdade. Têm
a estrutura do chiste que, como tal, instiga a sua transmissão a um terceiro e
provoca riso. Não são piadas, é importante ressaltar, mas podem eventualmente
tratar-se de fino humor. E o humor foge ao “politicamente correto”. Vale-se
dele para desobedecê-lo. O humor é uma forma sublimada de lidar com as dores do
existir, sem perder a graça.
E as crianças são mestras nesse saber.
As crianças, em constituição e ainda prenhes de
censura, fazem valer sua intimidade com o que angustia, o que mais se aproxima
da verdade, o que tange a experiência de tentar escrever, bordejar o que não
pode ser escrito, mas insiste: a vida, a morte, o sexo e a sexualidade, o desejo
e a verdade!
Publicar estes ditos de crianças é nos dispormos ao chiste e ao
humor que eles providenciam. É podermos todos nos divertir e aprender com eles.
Não
há expectativa, nem idealismo, só uma aposta insistente na vida. As crianças
acabam levando a gente a renovar esta aposta, todos os dias.
E aqui me valho, de novo, de uma criança e de seu
escrito.
Dedicatória a
seus leitores, no seu livrinho, escrito à mão:
“Para você
guardar e se divertir pelo resto de sua vida!”
Publicar é
guardar e lançar fora. Ela sabe que há uma parcela de satisfação de que se
usufrui naquilo que se guarda e daquilo que se lança fora.
Faço essas
minhas palavras também.
Angela Porto