Na abertura de seu Seminário, Livro 1, Os escritos técnicos de Freud, Lacan, nos seus comentários lembra que o pensamento de Freud é o mais perpetuamente aberto à revisão.
E diz: "É um erro reduzi-lo a palavras gastas. Nele, cada noção possui vida própria"
Freud “ousou dar importância àquilo que lhe acontecia, às antinomias da sua
infância, às suas perturbações neuróticas, aos seus sonhos. Daí ser Freud para
todos nós um homem que, como cada um, está colocado no meio de todas as
contingências – a morte, a mulher, o pai. Isso constitui uma volta ‘as fontes e
mal merece o título de ciência. O mesmo se dá para a Psicanálise e para a arte
do bom cozinheiro, que sabe cortar bem o
animal, destacar a articulação com a menor resistência. Sabemos que há, para
cada estrutura, um modo de conceitualização que lhe é próprio....” “ Temos de
nos aperceber de que não é com a faca que dissecamos, mas com conceitos. Os
conceitos têm sua ordem de realidade
original. Não surgem da experiência humana – senão seriam bem feitos. As
primeiras denominações surgem das próprias palavras, são instrumentos para
delinear as coisas.” “Toda ciência permanece, pois, muito tempo nas trevas,
entravada na linguagem.”
Mas Freud se impôs submeter-se à disciplina dos fatos,
afastando-se da má linguagem, quando se vale da experiência. Desde a origem, sabe
que só fará progressos na análise das neuroses se se analisar." (Lacan, Seminário 1, página 10)