A escrita não é este objeto espe/ta/cular através do qual se prospectam vidas ou personagens, seres,
idéias ou amores fantasmasiados por
seu escritautor.
A escrita é antes.
A escrita extrai a
ilusão do texto m/eu.
Ela não pertence.
Salta do rasgo do
impronunciável,
acontece no esteio do indecidível.
É anterior ao desabamento
da frase, ou à erosão de qualquer palavra que se queira compreensível.
A escrita corta
pontualmente os 2 lados de sua leitura e reata, mais além, as 3 margens de seu
leito.
A escrita se apõe entre texto, letra e voz,
para aí fazer o 4 em movimento, sobre o quase
eterno momento do silêncio,
manco,
rasurado do que ali pareceria perecer-se.
A escrita amarra o
perdido do tempo e, da vida, arrasta os instantes vazios de histórias, para
além do pórtico marcado da origem.
Tal qual “O Ronco da Cuíca”, versado por João
Bosco,
“roncou
de raiva a cuíca, roncou de fome...”,
Assim como a raiva e a fome,
a escrita é “coisa dos homens”.
Lúcia Montes.