quarta-feira, 30 de novembro de 2011

‘... ISSO, PORQUE EU SOU GALO E ELA É CRUZEIRO!’


A Escolha é o tempo anterior à Decisão

O Inconsciente não conhece a contradição.
 A Relação sexual não existe.

Complexa sim, mas nem tão complicada é a vida. A hora é de aprender a decifrar seus traços e catar as letras do caminho. Algum mal estar com certeza sempre virá!
A convivência humana de vez em quando faz jorrar a fonte das dificuldades que aparentemente não se manifestam no dia a dia das relações. E eis que aí se recoloca a velha equação:
Momentos de Decisão: Conflitos internos ... Rivalidades?!?
Seria tudo tão simples. Apenas pensávamos em levantar o tapete naquele vôo mágico, pelas nuvens do regozijo íntimo de nossa conquista...
mas subitamente, eis o que ressurge naquele mesmo lugar, nos traçados do tapete da ilusão, do discurso amoroso.
O olhar perdido no amor diário, a voz longínqua no pacto da sobrevivência, a ilusão nos votos da vida conjugal.
Mas quem é o Cônjuge?
Seria ele, hoje, em meu peito, o escudo de um time e, em minha pele, a cor de uma camisa ?
Por que, justo agora a-parecem estes desencontros, no domingo de sempre? O que fazer com isso?
É de todo desencontro entre campos/registros/planos heterodoxos que resulta a perda de informação não possível de ser traduzida de um registro para outro. Estes restos não traduzíveis, não articuláveis, são os objetos ‘a’. E sua função, se esvaziados de sua substância, é a de promover o movimento.’[Simone Caporali], Tear 4: a-ventura subjetiva significante e o momento em que as palavras acabam. (http://tear4-psicanalise.blogspot.com/2011/09/ventura-subjetiva-significantee-o.html )
Para se referir a seu trabalho, no prefácio de uma possível tradução japonesa, Lacan escreve: “Procuro demonstrar a “mestres”, a universitários ou a histéricas que um outro discurso, diferente do deles, acaba de aparecer. ... trata-se do discurso do psicanalista, que não esperou por mim para se instaurar. Mas isso não quer dizer que os psicanalistas o saibam. Não se ouve um discurso do qual se é pessoalmente o efeito.” [Outros Escritos]
Por estas linhas que tecem teoria, prática e experiência constatamos, noutra volta, a incompetência de um certo saber ao qual ficamos amarrados e que é exatamente este modo de ‘não-saber-fazer’ que aí se manifesta. O que não sabemos ainda é que aí está a chance ímpar de nos aproximarmos de um pedaço da verdade a que poderíamos ter acesso.
Ou melhor dizendo, sempre que isso acontecer, esta será a hora decisiva de se aproveitar a chance de inventar um novo lugar, onde cada um faça valer a exigência de que a partida de uma escolha deve sempre ser jogada no campo do desejo. 
Por causa disso a-gente tenta se fazer presente, em alguns temas da cidade,
pela via escrita de uma abertura do inconsciente.
Espero, na torcida...
que não prevaleça, nunca por muito tempo, em nossas decisões, a indiferença intelectual da deserotização que denega escolhas e renega diferenças.
Boa sorte a todos!

Lúcia Montes.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Românticos... são poucos? Românticos... são loucos?



Românticos são poucos
Românticos são loucos
Desvairados
Que querem ser o outro
Que pensam que o outro
É o paraíso... (Românticos, Vander Lee)

Quando a paciente, ao sair de uma sessão ‘triunfante’ de hipnose, lança os seus braços em torno do pescoço de Freud, ele, embora possa ter se comovido, não se deixa enganar pelas armadilhas que o amor providencia. A ‘hipnose e o estar amando’ andam de braços dados e, se servem à análise, só o fazem ao preço de serem perdidos pela operação de corte que extraia, de suas roupagens amorosas e narcísicas, o objeto a.
Freud desconfia do amor: “Ela me toma por um outro”, “não sou tão irresistível assim”, há qualquer coisa além de 'mim' e do 'amor por mim'. Mas ele sabe que está implicado nisso.
O drama humano do desejo só se toca por esse momento de emergência, fulminante, entre dois mundos, “entre o despertar de um sonho hipnótico e o a, subitamente estreitado nos braços da histérica”. A histérica é, por assim dizer, já psicanalisanda, a caminho de uma solução. Ela implica o sujeito suposto saber na questão que coloca para Freud, que “é tomado por um Outro”, que a escuta e é questionado. “Não sou tão irresistível assim”, mas há um que é...?
“A coalescência da estrutura com o sujeito suposto saber, é isso que atesta, no neurótico, o fato de ele interrogar a verdade de sua estrutura e de se tornar, ele mesmo, em carne e osso, essa interrogação. Em suma, ele mesmo é sintoma. Se há uma coisa que pode derrubar isso, é precisamente a operação do analista, que consiste em praticar o corte graças ao qual a suposição do sujeito suposto saber é desligada, separada da estrutura.”(Lacan, sem XVI, lição de 18 de junho de 1969)
Seriam ainda românticos os que pretendam se tratar do amor? Ou tratá-lo?
Se o funcionamento do tratamento analítico se baseia num corte subjetivo que leva do que dizemos de um desejo inconsciente à suposição de que um sujeito acabe sabendo o que quer...e se o saber e o que queremos se distinguem...há um lugar onde isso será possível?
 Não se trata do lugar onde se diz ‘sim’ ou ‘não’. Isso se chama vontade.
 Um saber-o-que-ele-quer , Lacan sugere, é esse o próprio desejo. 

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Ato analítico, estranho par de palavras...


“ É um  estranho par de palavras, que, para  dizer a verdade, não tem sido usado até hoje.”
Com essas palavras  Lacan inicia o Seminário do “Ato Psicanalítico”, quando manifesta  sua preocupação com os rumos tomados pela psicanálise, não só nos Estados Unidos como na França. Inicia o que ele chama  de  uma  “operação de varredura “, a fim de situar o ato, estabelecendo seu  limite em relação à ação.
  O  ato psicanalítico  não é um agir, uma ação física situada com referência na motricidade.   Ele  tem a função de implicar o sujeito num fazer, pois é um ato que provoca a subversão do sujeito perante seu saber e  é  ligado à determinação do começo e, muito especialmente, ali  onde há necessidade  de fazer  um, precisamente  porque não existe(Lacan, Seminário do Ato Psicanalítico, 22/11/68- pag 78 )  
”Da natureza deste ato  dependem conseqüências  as mais sérias  quanto ao que resulta da posição que se deve manter, para estar  apto para exercê-lo (Lacan, Seminário do Ato Psicanalítico, 22-11-1967, pag 23 )
 O ato psicanalítico diz respeito àqueles que não fazem dele  uma profissão.    Fazer do ato psicanalítico uma  profissão  resulta em sentir-se assegurado  profissionalmente numa posição  social idealizada, num determinado  lugar, num cartão de  apresentação, num contrato de  aluguel.  A clínica  nos   aponta   para outra  direção,  quando assumimos que a psicanálise não é uma  profissão, mas uma  função, onde  o analista  ocupa  o lugar do sujeito suposto saber. Trata-se  de uma posição,  em relação ao saber, diferente das outras ciências,   onde não há um saber antecipado  sobre o sujeito.
É no cada dia da clínica, na  escuta de cada   sujeito em  transferência  que o analista retira o seu saber, “saber aquilo que não se sabe" e é, num após,  que ele  pode  pensar de que  maneira ele escutou e como  suas  angústias, seus fantasmas, seu  imediatismo  podem  interferir  na  escuta dos pacientes.  Escuta que não é  filtrada  por padrões  morais, legais, não tem um objetivo de direcionar ou dar conselho, não  pode ser imediatista, pois  o resultado do ato só se dá a posteriori e, dele, o analista não tem notícia.
Lacan no  inicio de suas formulações sobre o ato psicanalítico, faz referência ao ato em suas coordenadas simbólicas, “pois na  dimensão  do ato vem  logo à baila [...]a  inscrição em lugar do significante  que, na verdade, não  falta jamais no  que constitui  um ato”( lição de 15-11-1967 ).  Na lição de 22 -11-1967 reafirma que tudo que se disse  sobre  ato sintomático recai sobre esta dimensão  que colocamos  como constitutiva de todo ato, a saber, sua  dimensão significante ,nada  é  introduzido  relativamente ao ato[...] senão isto: que ele é colocado  como significante” .
 O sujeito  que procura uma análise    vem inscrito no mundo por um efeito significante e traz consigo um saber universal. Saber determinado pela cultura e pelos ideais  que sustentam uma  cultura,  algo fabricado pelo discurso universalizante  do amor, da religião. do mercado comum”( http://tear4-psicanalise.blogspot.com/2011/08/em-que-psicanalise-pode-tocar-o.html) .
 E é desse lugar de saber  que o sujeito fala do seu sintoma, num discurso  repetitivo carregado de  gozo, pois  por trás de todo  sofrimento  há sempre um tantinho de gozo.  E é no trabalho analítico onde analista e analisante estão implicados numa  experiência de  discurso,  que a  palavra  pode possibilitar o acesso  ao inconsciente.
 Mas Lacan diz que não é simples assim,  pois o significante “toma  seu valor  sua articulação de ato   significativo com relação ao que Freud  então introduziu como inconsciente” (lição de  22-11-67, pag 28)  e para  Freud o inconsciente  é o real.
Lacan propõe tratar o real pelo simbólico.  É a palavra  que permite aceder a esse real e ‘desocultar’ a verdade,  porém não plenamente.
 Dizê-la toda é impossível, materialmente: faltam as palavras. É justamente  por esse  impossível que a verdade provém do real”(Lacan in Televisão, pag 11)   
 O  ato analítico vai colocar em cheque  os significantes que contam a história do sujeito,  significantes que  estão presentes no inconsciente  de  forma apagada  e estão lá  [..] “para obturar um buraco que  só esta lá se não  se pensa nele...]  [...]  “ou bem  o ato vai precisamente  no que se trata de atacar , de abalar, seu  sentido ao abrigo da inabilidade da falta” (lição de 22-11-67, pag 28 de  “O Ato psicanalítico” )
O ato psicanalítico é palavra e corte.

Lucia Cunha Frota

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

a-ventura subjetiva significante...e o momento em que as palavras acabam...


...“Chama-se a ‘castração’, que deve ser tomada em sua dimensão de experiência subjetiva, na medida em que canto algum, se não for por esta via, o sujeito não se realiza. Refiro-me ao sujeito, claro.Esse sujeito não se realiza exatamente senão enquanto falta, o que quer dizer que a experiência subjetiva desemboca nisto que simbolizamos por –phi.... e que esse ‘existe’ em questão, esse ‘existe’ de uma falta, é preciso encarná-lo no que lhe dá efetivamente seu nome: a castração. Trata-se, portanto de uma experiência limitada, de uma experiência lógica e, afinal, por que não? Já que, por um instante, saltamos para o outro plano, para o plano da relação do vivo a si mesmo, que nós só abordamos pelo esquema dessa aventura subjetiva, é preciso lembrar aqui que, do ponto de vista do vivo, tudo isso, afinal, pode ser considerado como um artefato”.(Lacan,J. Seminário XV: O Ato analítico - Seminário de 17 de janeiro de 1968. Pg. 98.)<쏤ˊ>

A experiência subjetiva de castração no percurso analítico será esse momento lógico do discurso quando as palavras acabam. Chega-se a um discurso sem palavras realizado através do esvaziamento do registro imaginário, pela via desta operação lógica, endereçado ao SSS analista. O saber discursivo tem um ponto de basta, que retorna o endereçamento a si mesmo. É nesse momento que saltamos para o plano da relação do vivo a si mesmo. A verdade do corpo vivo emerge, algo da materialidade do vivo-real fora da cadeia significante simbólica - esse saber hereditário instintual. Ao ponto de basta do saber (o saber inclui um não-saber) se abre à dimensão do plano da verdade (sexo e morte) – que não se articula ao saber, mas que pela descontinuidade a ele abre-se uma nova perspectiva lógica: um saber/verdade não-todo possível de articulação no discurso. 
O significado da palavra artefato é: produto ou obra do trabalho mecânico, que podemos acrescentar - produto ou obra do trabalho mecânico que opera a linguagem.
A experiência lógica é um artefato linguístico para o vivo, que conseguiu se superar enquanto vivo real se desdobrando na possibilidade da linguagem simbólica. A linguagem e a representação psíquica são um artefato, que possibilitam a abordagem do vivo através de sua aventura subjetiva, o sujeito-vivo 'intocado pelos efeitos radicais da linguagem’ (Ângela Porto in http://tear4-psicanalise.blogspot.com/2011/09/o-campo-limitado-que-e-o-da-psicanalise.html ) se lança em sua aventura...
Inicialmente alienado, e pós-análise, funcionando como objeto ‘a’, causa de desejo – sujeito barrado que se realizou como sujeito da castração. Durante o trajeto analítico, a falta inicial se transmutará em perda. Durante a passagem do funcionamento do aparelho psíquico do processo primário, para a tradução linguística necessária - processo secundário, se perderá muita informação sensória (percebida pelos 5 sentidos) e motora, impossíveis de tradução – os objetos ‘a’. Esses serão o resultado desta passagem pelo filtro da realidade psíquica. O sujeito do inconsciente, tal como temos acesso, será produto dessa passagem (estruturado como linguagem) e é nesse momento onde restam inúmeros ‘a’ que o sujeito se testemunhará enquanto perda – objeto ‘a’.
O objeto ‘a’ enquanto resto de uma operação linguística evidencia a dissimetria entre dois campos/registros/planos: o psiquismo e o corpo, o sujeito e o outro, o particular e o universal, etc... Ao mesmo tempo, se o pensarmos como intervalo, como espaço da descontinuidade, aí estará a possibilidade da articulação entre dois campos heterogêneos, articulação que sempre aponta para a impossibilidade da complementaridade.
É de todo des-encontro entre campos/registros/planos heterodoxos que resulta a perda de informação não possível de ser traduzida de um registro para o outro. Esses restos não traduzíveis, não articuláveis são os objetos pequenos ‘a’. E sua função, ao final da análise, esvaziados de sua 'substância',  é a de promover o movimento.
Nesse substrato de objetos ‘a’, o sujeito se vale das articulações possíveis para funcionar como sujeito falante, entendendo o resultado da linguagem como uma tentativa, uma possibilidade de ser. Ser enquanto efeito de linguagem, de um significante que o representa para outro significante. Isso modifica sua posição enquanto falante, já que não existe uma só maneira de se falar e escutar algo. O equívoco intrínseco inerente da linguagem está a serviço do ser... Isso é libertador porque põe em pauta o que está fora linguagem e as possibilidades incomensuráveis para a articulação significante, apesar das perdas e graças a elas. O ser se lança em sua a-ventura subjetiva significante a-cerca dos objetos ‘a’, a-través do artefato linguístico...
 Freud nos lembrou dos 3 grandes golpes sofridos pela humanidade em seu narcisismo: o golpe cosmológico, quando Copérnico (Sec. XV) desfaz o pensamento de que a terra era o centro do universo; o golpe biológico, quando Darwin (final Sec. XIX) demonstra que o homem não é superior aos animais e sim descende deles; e o golpe psicológico, onde Freud (início Sec. XX) retira do homem sua posição de consciência, dono de si, dizendo: “O eu não é o senhor em sua própria casa”, mostrando que a sexualidade e o inconsciente não são passíveis de domínio e que são eles que determinam a vida psíquica.*
 Lacan vem nos lembrar, com a aventura significante subjetiva, esse redimensionamento humano através do reconhecimento de seu funcionamento via perdas, pelo radical golpe linguístico do significante... Podemos ser, enquanto efeito de linguagem...


*Freud, “Uma dificuldade no caminho da Psicanálise”, (1917),
Simone Caporali Ribeiro

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Em memória de Sigmund Freud... 23 de setembro


No dia em que se comemora a morte de Freud(23/09/1939), uma "Elegia", a de W.H.Auden, no seu poema "In memory of Sigmund Freud".

In memory of Sigmund Freud          
by W.H.Auden*

When there are so many we shall have to mourn,
when grief has been made so public, and exposed
     to the critique of a whole epoch
   the frailty of our conscience and anguish,

of whom shall we speak? For every day they die
among us, those who were doing us some good,
     who knew it was never enough but
   hoped to improve a little by living.

Such was this doctor: still at eighty he wished
to think of our life from whose unruliness
     so many plausible young futures
   with threats or flattery ask obedience,

but his wish was denied him: he closed his eyes
upon that last picture, common to us all,
     of problems like relatives gathered
   puzzled and jealous about our dying.

For about him till the very end were still
those he had studied, the fauna of the night,
     and shades that still waited to enter
   the bright circle of his recognition

turned elsewhere with their disappointment as he
was taken away from his life interest
     to go back to the earth in London,
   an important Jew who died in exile.

Only Hate was happy, hoping to augment
his practice now, and his dingy clientele
     who think they can be cured by killing
   and covering the garden with ashes.

They are still alive, but in a world he changed
simply by looking back with no false regrets;
     all he did was to remember
   like the old and be honest like children.

He wasn't clever at all: he merely told
the unhappy Present to recite the Past
     like a poetry lesson till sooner
   or later it faltered at the line where

long ago the accusations had begun,
and suddenly knew by whom it had been judged,
     how rich life had been and how silly,
   and was life-forgiven and more humble,

able to approach the Future as a friend
without a wardrobe of excuses, without
     a set mask of rectitude or an
   embarrassing over-familiar gesture.

No wonder the ancient cultures of conceit
in his technique of unsettlement foresaw
     the fall of princes, the collapse of
   their lucrative patterns of frustration:

if he succeeded, why, the Generalised Life
would become impossible, the monolith
     of State be broken and prevented
   the co-operation of avengers.

Of course they called on God, but he went his way
down among the lost people like Dante, down
     to the stinking fosse where the injured
   lead the ugly life of the rejected,

and showed us what evil is, not, as we thought,
deeds that must be punished, but our lack of faith,
     our dishonest mood of denial,
   the concupiscence of the oppressor.

If some traces of the autocratic pose,
the paternal strictness he distrusted, still
     clung to his utterance and features,
   it was a protective coloration

for one who'd lived among enemies so long:
if often he was wrong and, at times, absurd,
     to us he is no more a person
   now but a whole climate of opinion

under whom we conduct our different lives:
Like weather he can only hinder or help,
     the proud can still be proud but find it
   a little harder, the tyrant tries to

make do with him but doesn't care for him much:
he quietly surrounds all our habits of growth
     and extends, till the tired in even
   the remotest miserable duchy

have felt the change in their bones and are cheered
till the child, unlucky in his little State,
     some hearth where freedom is excluded,
   a hive whose honey is fear and worry,

feels calmer now and somehow assured of escape,
while, as they lie in the grass of our neglect,
     so many long-forgotten objects
   revealed by his undiscouraged shining

are returned to us and made precious again;
games we had thought we must drop as we grew up,
     little noises we dared not laugh at,
   faces we made when no one was looking.

But he wishes us more than this. To be free
is often to be lonely. He would unite
     the unequal moieties fractured
   by our own well-meaning sense of justice,

would restore to the larger the wit and will
the smaller possesses but can only use
     for arid disputes, would give back to
   the son the mother's richness of feeling:

but he would have us remember most of all
to be enthusiastic over the night,
     not only for the sense of wonder
   it alone has to offer, but also

because it needs our love. With large sad eyes
its delectable creatures look up and beg
     us dumbly to ask them to follow:
   they are exiles who long for the future

that lives in our power, they too would rejoice
if allowed to serve enlightenment like him,
     even to bear our cry of 'Judas',
   as he did and all must bear who serve it.

One rational voice is dumb. Over his grave
the household of Impulse mourns one dearly loved:
     sad is Eros, builder of cities,
   and weeping anarchic Aphrodite. 

* Wystan  Hugh  Auden nasceu em 21 de fevereiro de 1907 na Inglaterra e morreu em  28 de setembro de 1973.  Homossexual  assumido  em 1935 casou-se por procuração com a filha do escritor  Thomas Mann ,para possibilitar-lhe obter passaporte  britânico e  fugir da Alemanha de Hitler. Em 1937 alistou-se na Brigada Internacional para combater na Espanha ”vou ser provavelmente  um péssimo  soldado mas como posso   falar  por eles sem ser um deles...”.  Não foi soldado  nem dirigente de ambulância como pretendia ,sendo  designado para divulgar o movimento republicano, que lutava contra o exército e era  apoiado  pela Burguesia e pela  Igreja Católica  .
Visitou a Alemanha, China e em 1939 mudou-se para os Estados Unidos, tornando-se, mais tarde, cidadão americano. Suas crenças mudaram muito entre o período de sua jovem carreira na Inglaterra (onde era adepto do socialismo e da psicanálise Freudiana) e sua fase posterior, na América, quando sua principal preocupação passou a ser o cristianismo e a teologia do protestantismo.

Auden começa sua elegia ”Em memória a Sigmund Freud”  apontando para   um momento  histórico , onde as consciências e as  angustias de  governantes e governados  se tornam públicas frente as ameaças de uma  guerra mundial .   No  período que antecede a morte de Freud ,1939, a revolução espanhola  foi responsável  por milhares de mortes  e    no mês em que Freud  morreu  a Polônia  foi invadida  e iniciada a política de  perseguição e extermínio dos   judeus . Os versos de Auden inserem a morte de Freud  nesse contexto  :
 “Só o Ódio ficou feliz, na esperança de aumentar
Sua clínica e então sua sórdida clientela
 Que pensa  curar-se  matando
E cobrindo  os jardins com cinzas “
A herança  psicanalítica se mostra em outros  momentos  do poema, fazendo alusão aos desejos reprimidos  que, como ‘faunas da noite’ ,"não estão mortos em nosso sentido da palavra, mas apenas como as sombras na Odisséia, que acordou para algum tipo de vida, logo que tinha gosto de sangue"(Freud) ;   ou ainda   fazendo    analogia entre a poesia e a psicanálise, quando compara  o método  analítico a uma lição de poesia assim se exprimindo: “dizer ao Presente infeliz que recitasse o Passado qual uma lição de poesia”.Auden profundamente preocupado pela perda da  identidade  individual e a ascendência de ciências  como a estatística  via em  Freud um aliado dos poetas    contra as formas homogêneas   de  conhecimento.Considerava que o trabalho social da psicanálise como  da poesia deveria  proceder ao nível do individuo  e que  a  tarefa da psicanálise  ou da arte não era  dizer às pessoas como se comportar, mas chamar a atenção, para o que o inconsciente impessoal estava  tentando dizer-lhes,  aumentando assim  o seu conhecimento do bem e do mal.Conhecimento que  poderia torná-las     mais capazes  de escolher e mais responsáveis pelos seus destinos Por esta razão, a psicanálise e a arte se opõe a todas as generalizações. 
 Colaboração e pesquisa de Lucia Frota