quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Em quê a psicanálise pode tocar o preconceito?



Preconceito (prefixo pré- e conceito) é um "juízo" preconcebido, manifestado geralmente na forma de uma atitude "discriminatória" perante pessoas, lugares ou tradições considerados diferentes ou "estranhos". Costuma indicar desconhecimento pejorativo de alguém, ou de um grupo social, ao que lhe é diferente. As formas mais comuns de preconceito são: social, "racial" e "sexual".
De modo geral, o ponto de partida do preconceito é uma generalização superficial, chamada "estereótipo”.
Observa-se então que, pela superficialidade ou pela estereotipia, o preconceito é um erro. Entretanto, trata-se de um erro que faz parte do domínio da crença, não do conhecimento, ou seja, ele tem uma base irracional e por isso escapa a qualquer questionamento fundamentado num argumento ou raciocínio.(Wikipédia)

Em quê a psicanálise pode tocar o preconceito?
Movimentos políticos, associações, leis contra a discriminação tentam  corrigir, regular aquilo que é da ordem do preconceito...
Providências louváveis de controle dos excessos dos homens que atentam contra eles mesmos. Questões de direito. Atos políticos ou humanitários. Atos, que são um dizer, em nome de alguém, que certamente trazem modificações decisivas na cultura.
Intenções retas.
 “É certo que Freud não foi o primeiro a nos permitir sair desses círculos fechados, já que para por em suspenso o valor de uma boa intenção, encontramos uma crítica totalmente eficaz, explícita e manejável, no que Hegel articula da lei do coração ou do delírio da presunção; que não basta se levantar  contra a desordem do mundo para não se fazer dela, por este protesto mesmo, o mais permanente suporte.” Lacan, Seminário XV, grifos meus
Mas, o analista? O  ato analítico?
O psicanalista em seu ‘solo’, de ‘seu canto’, supõe-se que,de sua função, diferentemente dos que se ocupam das mazelas da humanidade na esperança de curá-las, seja aquele que ouça o sofrimento de cada um, como gozo;
Supõe-se que, desta mesma função, recolha os gritos de dor da verdade não formalizada e opere com o gozo e com o que dele se faça articular;
O que se entende por  ‘humanidade’ é algo da ordem do fabricado pelo discurso universalizante do amor, da religião, do ‘mercado comum’ e a ‘humanidade’ não quer  abrir mão de seu grito, pois  ela goza com sua vociferação.
Então, ‘ouvir’ o pré-conceito, em análise, não é atender à 'humanidade' da questão. É chegar ao 'inumano' da questão. É ouvir o discurso que leva até onde o sujeito está e não está em todas as possíveis relações com o objeto, é fazer construir a fantasia, sempre singular, que sustenta o desejo.
Longo caminho a ser percorrido, recorridamente, até o lugar de encontro com a falta.
Espera-se que, então, aquilo, que tenha sido preconceito, se faça experiência singular da relação do sujeito com seu desejo.
O que implicaria, como consequência, acolher  sem angústia a diferença.
Angela Porto

4 comentários:

  1. Quem sou eu para comentar um texto desse? Mas, me encantou. Parabéns, Ângela. "Acolher as diferenças sem angústia e pré-conceito". Imprescindível em qualquer tipo de relação entre os seres. Abraços. Rosângela Regatos.

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  2. Com quatro anos de atraso ai vai o meu louvor pela objetividade e clareza do texto Lucia Cunha Frota

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    1. Obrigada, Lúcia! É sempre tempo...a atemporalidade é a marca do inconsciente...sinal que vc andou voltando aos textos do Tear 4, coisa que faço vira e mexe, e não costuma ser em vão...

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  3. ótimo pela clareza e objetividade do texto

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