segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Últimas, senão primeiras, considerações ao trabalho que se desenvolve, desde 2010, no Tear 4 e...que segue em 2011

Dali-Renoir


“Convocado a testemunhar as freqüentes e repetidas cenas de atuações do paciente que quase sempre o enunciam como um sem bordas entre a vida e a morte, o analista presencia a insistência de um circuito fechado do gozo que visa, com e pela palavra, ocupar também os vazios do impossível de dizer. Dimensão em que o gozo encerra o significante, no engodo onipotente de disseminar no discurso a servidão da impostura. Obediência à aparência da verdade de um todo-saber contido no dito.
Saber sobre o quê? A que saber não se pode ter acesso, quando se diz saber do que se trata? É preciso formular melhor e uma vez mais, ainda... estas questões. Mesmo porque não há uma proporção exata para saber e verdade, assim como não há uma resposta a priori  para o sexo.
Sob transferência, na presença do analista, destaca-se um tipo de afeto que pode viabilizar uma atualização do significante, através de seu re-endereçamento ao sujeito suposto saber, o inconsciente.
Sutis detalhes, atos falhos, homofonias... Frestas-alertas, janelas na mansão do dito.
Este trabalho de elaboração é operação de cortes precisos e faz, no discurso, uma espécie de sulcagem, reabrindo a fenda de uma pulsação, inter-valas da separação. O rasgo a ser mantido entre as diferentes faces da pulsão: descola-se a face significante na sua torção com a face de gozo. A primeira, articulada ao material recalcado e a outra,  fator quantitativo, valor devotado ao objeto, perdido, no momento mesmo de seu advento.
Separados do gozo da fala, do sentido e da impostura no dito, cada um dos significantes, que assim se reapresentam, vão se re-a-locando e sendo transferidos à posição de abertura de novas cadeias significantes.
Esvaziado do sentido obtuso que o aderia ao gozo, o significante deverá sofrer sua erosão até um outro modo de dizer que a letra imprime na gramática da pulsão, para que se reescrevam os caminhos possíveis ao desejo, advindo de outro discurso, que não seja da aparência, sem palavras e que resiste aos signos da morte.” Lucia Montes, em http://tear4-psicanalise.blogspot.com/2010/11/de-amores-e-sexos-nesta-pluralidade-o.html

Chegamos ao final deste tempo de trabalho, em 2010, “da transferência à interpretação” até uma exigência de “trançar por onde resiste o discurso”, que se segue como conseqüência lógica do trabalho da clínica, sob transferência, ao nosso tempo de “ da pulsão ao ato”, vislumbrado em nossa proposta inicial do Tear 4 .

 Todo o encaminhamento deste movimento se faz perceber, ler, reescrever nas entrelinhas, interstícios dos dizeres de suas 59 postagens, visitadas por quase 3000 leitores, reafirmando nossa aposta em um trabalho de confiança,constituída na transferência ao texto de Freud e Lacan, no Tear 4, lugar de encontro onde se quer poder tramar, tecer e fiar, sem se fiar.

Talvez a posta em ato, de uma “justa topologia” como sugere Lacan no Seminário 8.’Justa topologia’, que veio nos recolocando, em nossos trabalhos, e na nossa experiência, na direção da retificação do conceito de transferência.
Desde um ‘no começo era o amor’, passando pelo estrutural da constituição do sujeito, ‘no começo era o Verbo’, pela reflexão ética da direção do tratamento, via a sustentação do desejo, até um ‘no começo é o ato’, o encontro com o real, encontro essencialmente faltoso.http://tear4-psicanalise.blogspot.com/2010/08/alo-alo-da-blogger-ao-blog-insistencia.html 

 O ato é o que resulta, então, sempre,  lógicamente, de nosso percurso, como próximo passo de trabalho como analistas.

 O Tear 4 continua aberto, nos seus encontros para 2011, a novas inscrições para participação e trabalho, em seu endereço à Rua Fernandes Tourinho, 470, às 2as feiras, de 13,30h às 15h. Fones de contato:(31) 3223 8088 e (31)32812212 

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Mala, dejeto, droga...na transferência a atualização do inconsciente

"Felicidade é uma arma quente", disse Burroughs
O  sonho  é o  mensageiro que  nos vem   recordar a vida,  não  é a morte ,quem morre não sonha  e dela nada sabemos .(Sá Carneiro,poeta português)

O recordar a vida trás consigo um anúncio da morte . Anúncio que não significa antecipação . 
 A expressão “morto em vida  “ é uma   referência  às pessoas   que procuram antecipá-la ,   presas  numa   significação que aparece  nas  falas   “sou apenas um dejeto, objeto caído no chão por uma pressão que me  impede de  levantar” ou “ as drogas são malas  que me conduzem....”
Mala ,  dejeto , droga  significantes carregados de  gozo . O trabalho de análise  pode propiciar o esvaziamento desse gozo .
 O escritor  William Burroughs, ao falar de sua experiência com  as drogas  insiste:
-Alguém se torna  drogado... "por não ter fortes motivações em qualquer outra direção."
 A   presença de paciente e analista numa estrutura analítica, portanto  transferencial ,  através da associação  livre por parte do paciente e a escuta ética do analista  abre possibilidades  para novas resignificações, que, via um esvaziamento de gozo, podem fazer abertura para que o desejo se faça presença, nestes casos?
Lacan afirma que a transferência é um fenômeno  que atualiza a realidade inconsciente modificando a relação  do sujeito com o  seu inconsciente, enquanto experiência  dialética do desejo: “um discurso onde o assujeitamento do sujeito ao  significante de sua demanda se transfere em subjetivação disso que causa  o seu desejo” ( D.P.Freud Lacan –Agalma)

Lucia Cunha Frota


Nota sobre William Burroughs (pesquisa da blogger)

Considerado por alguns como “o maior escritor satírico desde Jonathan Swift” (
Jack Kerouac), ou ainda como “o fora-da-lei da literatura” , Burroughs foi com certeza, um dos maiores escritores da chamada geração “Beat” (ou “beatnik”) que inaugurou uma nova maneira de escrever (foi ele quem popularizou a técnica do “cut up” inventada por um grande amigo seu Brion Gysin, e ele também quem inventou o termo “heavy–metal”).

William Seward Burroughs nasceu em St. Louis, Missouri (EUA), em cinco de fevereiro de 1914.
Durante um período Burroughs foi morar na Alemanha onde pretendia estudar medicina e onde conheceu Ilse Herzfeld Klaper, uma judia alemã. William acabou casando-se com Ilse para que ela pudesse ir morar nos EUA visto que o nazismo começava a tomar conta da Alemanha. Ambos tornaram-se muito amigos e tinham o costume de almoçar quase sempre juntos, mas jamais chegaram a viver como marido e mulher e Burroughs acabou se separando oficialmente dela na década de 40 quando se casou com Joan Vollmer.
Talvez tenha sido nesta época, em que esteve em contato com o nazismo de Hitler na Alemanha, que ele tenha começado a se interessar pelos mecanismos de controle do Estado sobre seus cidadãos, umas das problemáticas que permeiam sua obra e sobre a qual escreveria: “Desde o começo eu tenho me preocupado, enquanto escritor, com o vício em si (seja a droga, sexo, dinheiro, ou poder) como um modelo de controle,…”.
Aliás de vícios Burroughs entendia. Seu estilo de vida, totalmente incomum para a época (Burroughs era homossexual e viciado em morfina), foi o que fez com que ele se tornasse um ícone da cultura beat.
Ao morar em Chicago, Burrougs conheceu Lucien Carr (que mais tarde seria pai de Caleb Carr, autor de “The Alienist”) e David Kammerer que teve um papel fundamental na vida de Burroughs, pois foi através dele que Burroughs conheceu (este sim) o pai da cultura beat, Jack Kerouac. Foi Kerouac também, o primeiro a incentivar Burroughs a escrever.
Em 1951, Joan, a esposa de Burroughs, foi morta por acidente por ele mesmo que alegou na época que eles estavam “brincando” de reproduzir a cena de Guilherme Tell – em que ele deve acertar uma flecha na maçã sobre a cabeça de seu filho, só que no lugar da maçã haviam colocado um copo na cabeça de Joan e no lugar do arco e flecha, um revólver. E (apenas um detalhe…) estavam bêbados…
Em 1956 Burroughs escreveu uma carta ao Dr. John Dent, médico e pesquisador sobre o vício em drogas, onde relatava à ele todas as suas experiências com o uso de diversas drogas (opiáceas, estimulantes, cannabis, alucinógenos, álcool, e outras) e que acabou se tornando o início de seu livro de maior sucesso “Naked Lunch” (Almoço Nu) publicado em 1959. “Almoço Nu” foi escrito durante as viagens de Burroughs pela América Latina e depois de pelo Marrocos, após a morte de sua esposa Ilse. Foi durante estas viagens pelas Américas que Burroughs conheceu o peyote, mescalina advinda de um cactus, usado pelos índios.Morreu aos 73 anos, de ataque cardíaco. Jamais abandonou as drogas.( Referência:
http://www.infoescola.com/escritores/william-burroughs/)