sábado, 26 de fevereiro de 2011

OS DOIS LADOS DA JANELA


Está proposta, no Tear 4, a necessidade de um outro estudo que se formalizará, em novo espaço de encontros semanais, para leitura do Seminário da Angústia e suas elaborações, necessárias ao estudo do “Ato Psicanalítico”.

Local:  Rua Fernandes Tourinho, 470, 3º andar.
Horário: Segundas-feiras, de 15:30h às 17:00h
Coordenação: Angela Porto e Lúcia Montes
Inscrição até 14 de março,  
Mais informações, telefones:  (31) 3281-2212 -  (31) 3223-8088

“Se escolhi trabalhar, este ano, a partir da angústia, foi porque esse caminho reaviva toda a dialética do desejo, e porque é o único que nos permite introduzir uma nova clareza quanto à função do objeto em relação ao desejo”( Lacan, Seminário 10, A angústia, lição de 15 de maio de 1963)

O tema da angústia leva  Lacan à  formulação do objeto da psicanálise e à dimensão do real na constituição do sujeito da clínica psicanalítica.
O caminho tomado por Lacan enfatiza que, apenas através de elaborações precisas,  seria possível se apropriar dos recursos que o manejo da transferência exige,  nas abordagens clínicas do acting-out, da passagem ao ato e do trabalho de luto, tanto na neurose obsessiva quanto na histeria.
A experiência do trabalho analítico e sua teorização  posiciona o analista diante da questão posta por Lacan, da possibilidade  de se entrar, como desejo, nesse a irredutível, para oferecer à clínica da angústia sua  real problematização. 



quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Alienação: vir a ser significante? (Notas de estudo do Cap XVI, Sem.11, Lacan)


A estrutura do aparelho psíquico do sujeito que virá a ser, se organiza em função da dinâmica sexual, ou seja, através do circuito pulsional.
Lacan propõe para a compreensão do circuito, a noção de trajeto pulsional percorrido entre dois campos: o do sujeito e o do Outro. E ainda, que o inconsciente estaria localizado nesta trajetória pulsional, na intersecção desses dois campos. Considera-se o campo do Outro, a cadeia significante; e o campo do sujeito, “o vivo onde o sujeito tem que aparecer”, e é de onde parte a pulsão.
A pulsão é parcial (ela parte de uma borda e não de um todo) e parte, de início, da função biológica de reprodução, como necessidade.
No psiquismo não há nada pelo que o sujeito possa se situar como ser de macho ou de fêmea, só se situam equivalentes – atividade / passividade. A pulsão é ativa no primeiro momento de seu trajeto que é lançado de uma borda do campo do sujeito. É passivo no retorno, em relação ao campo do sujeito, que vem do campo do outro, exterior ao campo do sujeito. Então a passividade para Lacan é conseqüência da atividade do primeiro momento do trajeto. A referência para o termo passividade está na atividade.
É a mesma lógica para o ser de macho ou de fêmea, a referência está na representação do falo, ter ou não tê-lo. Só que o não ter, não é uma conseqüência do ter, não há representação para o não ter.
 “O que determina o ser de macho ou de fêmea no psiquismo é o roteiro do Édipo que se coloca no campo do Outro”.
 É aquilo que retorna no segundo momento pulsional desse roteiro edípico.
Além dos dois momentos do trajeto pulsional, teremos também os três tempos da pulsão: ver, ver-se e se fazer ver.  A pulsão sempre tenta inscrever-se, provocando sempre um movimento.
 Parte como necessidade, retorna com um significante. Parte como demanda, retorna como desejo
A pulsão parcial é o representante no psiquismo das conseqüências da sexualidade.  A sexualidade se instaura no campo do sujeito por uma via que é a da falta. A pulsão parte como demanda e retorna como desejo.
Isso porque a experiência humana está fundada sobre perdas, ou faltas.
A primeira falta seria a falta real que o vivo perde, de sua parte de vivo, ao se reproduzir pela via sexuada. Lembrando a genética: homem (XY), mulher (XX). Ao se reproduzir um novo ser, se homem (XY), perde-se (XX); se mulher (XX), perde-se (XY).
A segunda falta recobre essa primeira falta: para o advento do sujeito, não existe o significante que o determine, e esse significante está primeiro no campo do Outro.
Freud se vale do mito de Aristófanes, sobre a natureza do amor (Eros) no Banquete de Platão, para mostrar que o sujeito está fadado imaginariamente a buscar o seu complemento no outro.
O mito do Andrógino conta que os seres humanos começaram por ser esféricos, completos e perfeitos, mas que, por isso mesmo, desafiavam a própria natureza divina. Perante os excessos desmedidos do homem, os deuses resolvem intervir com a sua ação reguladora, infligindo a cada um desses seres um corte e subsequente separação em duas metades. A partir dessa intervenção, cada uma das metades busca pateticamente o seu complemento na outra metade perdida”.
Em oposição ao mito de Aristófanes, que busca no outro sua metade sexual pela via do amor, a experiência analítica busca sua parte para sempre perdida dele mesmo. Portanto a pulsão parcial é fundamentalmente pulsão de morte, “e representa em si mesma a parte da morte no vivo sexuado”.
Lacan propõe o mito da lâmina (lamelle) para nos falar do ‘corte dos deuses’ e ressituar o objeto perdido. A lâmina nos propõe dois sentidos: a da ação do corte, e a idéia de uma ‘lasca’, uma amostra de qualquer um, não todo. A imagem do objeto perdido seria a da placenta. Ao vir ao mundo perdemos este pedaço que seria da mãe e do filho, que seria nem de um, nem de outro. Seria um resto depois da ruptura da membrana embrionária, via o corte da lâmina. Um lasca de corpo, fora do corpo, que guarda em si a idéia de uma complementação.
A libido, para Lacan, seria esse órgão capaz de encarnar a parte faltosa. Coloca a libido não como um campo de força, mas como um órgão irreal, e que se articula ao real de um modo que nos escapa. Essa lasca, essa placenta com movimento orientado pela pulsão, teria a função erótica de entalhar no corpo, o sujeito. De um lado bordas de um corpo, de outro, um sujeito que precisa vir-a-ser. Esse órgão inapreensível simbolicamente teria a função de tentar ligar as bordas do corpo erógeno a uma representação no psiquismo.
Tudo surge da estrutura do significante. O sujeito é efeito do significante.
A relação do sujeito ao Outro se engendra num processo de hiância. O processo é circular entre o sujeito e o Outro, através do movimento da pulsão que compõe-se de uma partida e um retorno, e que na intersecção deles se situa o inconsciente, determinando um processo circular, sem reciprocidade, e sem simetria.
Um significante é o que representa um sujeito para outro significante.
O significante produzindo-se no campo do Outro faz surgir o sujeito de sua significação. Mas ele só funciona reduzindo o sujeito em instância a não ser mais do que um significante, petrificando-o pelo mesmo movimento com que o chama a funcionar, a falar, como sujeito.”
A significação do sujeito fechada em um significante, o faz desaparecer como sujeito, mas ao mesmo tempo o identifica. A âfanise ou fading é esse momento de fechamento, de paralisação da possibilidade de deslizamento na cadeia significante.
O sujeito se constitui no campo do Outro. E a característica do sujeito do inconsciente é de, estar sob o significante (que está no campo do Outro), que irá desenvolver sua cadeia de significantes. Isso coloca o sujeito num lugar indeterminado.
Simone Caporali Ribeiro

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Corte e Retorno... nos vetores do “Ato psicanalítico”




“... a verdadeira análise original só pode ser a segunda, por constituir a repetição que da primeira faz um ato, pois é ela que introduz o a posteriori próprio do tempo lógico, que se marca pelo fato de que o psicanalisante passou a psicanalista. (Refiro-me ao próprio Freud, que com isso sancionou não ter feito uma auto-análise.) [Lacan – “Proposição de outubro/67”]

A passagem pelos textos do Seminário XI de Lacan, “Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise”, seguida de um tempo ‘em reserva’ que o período de férias contempla como ‘boa distância’ necessária ao funcionamento da psicanálise, serve-nos, agora, à recolocação dos propósitos do nosso Estudo no Tear 4 e a seu possível entrelaçamento com o trabalho que cada um de nós re-endereça à sustentação ética da Psicanálise em nosso tempo.
Em torno dos termos do Corte e do Retorno, tentaremos restaurar o vigor da proposição lacaniana, ao sustentar o fio rigoroso com que Freud teceu os conceitos da clínica psicanalítica.
Retorno a Freud é o registro do estilo com o qual Lacan delimitou o corte irreversível, endereçado à responsabilidade do analista com a permanente reinvenção da psicanálise, nas dimensões de seus impasses clínicos e avanços na cultura.

“O desejo do analista, é esse o ponto absoluto de onde se triangula a atenção ao que, por ser esperado, não deve ser deixado para amanhã. Mas ao formulá-lo como eu fiz, introduz-se a dimensão na qual o analista depende de seu ato.” [Lacan, “Discurso a EFP” – dez/67]

            Deste movimento de passagem pelos fundamentos, hiato das férias e o momento atual de fazer outro giro pelo texto de Lacan, esperamos que, na pulsação do seminário “O Ato psicanalítico”, seja possível, a posteriori, a reinvenção de caminhos que promovam sempre o retorno a Freud.

                                                         Lucia Montes